quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Infantis, é o que são


Resisto quase sempre a engrossar o coro de indignados contra os partidos.
O meu problema – ou a minha dissonância – com o tom generalizado prende-se com o ódio fácil a tudo o que seja «financiamento» e «partidos» quando conjugados.
Os partidos, como quaisquer organizações, carecem de meios financeiros para cumprirem o seu objecto.
Dá-se o caso do objecto dos partidos ser – permitam-me a frase feita – cumprir a democracia, isto é, participar da representação dos cidadãos. Não é coisa pouca e não é, sobretudo, coisa despicienda.
Para que não me julguem erradamente, declaro já que não concordo com a isenção envergonhada de IVA. Mas nem é isso que me indigna.
O que verdadeiramente me indigna – aí sim, engrosso abertamente o coro de indignados – é o instinto infantil dos que «ocupam» (ocupam parece-me o termo adequado) os partidos.
É infantil porque é infantil o jogo das escondidinhas. É infantil porque deixam o rasto à vista dos «progenitores» e expõem-se ao inevitável «puxão de orelhas». E é infantil porque não têm (ainda) noção do ridículo.
De tão infantis que são nem se dão conta do dano que causam à sua própria causa (que até nem é assim tão injusta).
Infantis, é o que são.


#Escritório

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Onde vais?

Agachado, ao frio, quase nem se via. Parecia que chorava mas não se lhe viam lágrimas. Talvez já nem as tivesse. Custava-lhe esta noite. Sentia-se esquecido. E não se libertava das saudades do tempo em que não lhe apetecia chorar.

De repente, do nada, sentiu um toque que evoluiu rapidamente para um abraço suave e querido. Ao ouvido soou-lhe um “anima-te”.
Não conseguiu perceber logo quem era. E não se interessou especialmente por saber. Animou-se e afeiçoou-se àquela providencial companhia. Podia estar frio. Podia ter fome. E saudades. Mas não estava só. O calor saboroso de um abraço, de uma conversa, quase de um colo, era tudo o que procurava. E teve.
Conversou. Riu. Entregou-se.
As lágrimas que não conseguira verter esquecera-as. E sentiu a alegria de uma noite especial.
Não queria despedir-se. Compreendeu até mal porque se havia de despedir.
- Onde vais? - perguntou.
- Vou nascer!

Santo Natal para todos.

#Jardim

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Natal

É sempre a mesma tensão. Uns acham que sim, que todos devem participar desde o início.
- Faz parte! - dizem.
- Mas os que têm menos de 5 anos não podem ir porque só vão atrapalhar... - avisam os demais.
Entre argumentos e contra argumentos, as mães tomam as dores dos mais novos e apresentam-nos à porta, devidamente encasacados e prontos para a investida na mata. Ano após ano, lá vamos todos recolher o musgo que há-de preencher o enorme presépio do nosso orgulho. E do princípio ao fim todos participam, de facto.
Mas não é só musgo! Há sempre um imponente lago de espelho, com o pescador de cana na margem (já com o peixe a morder o anzol). E rio! Tem um rio com água e corrente a sério, atravessado por uma ponte rústica de três arcos. E por entre os montes e vales tão delicadamente criados, convivem a Igreja matriz e a capela, o castelo e o fontanário, as casas grandes e pequenas.
E depois, bem, depois um mundo de pastores e suas infindáveis ovelhas, lavadeiras e anjos a tocar arpa e trompete, que preenchem o imaginário e a disputa entre os mais novos (eu sou aquela!, dizem elas, eu sou este!, diz o mais pequeno, não, eu sou aquele!, protestam outros). E no meio desta entrega colectiva, cada um encontra o seu lugar. Todos cabem. Cabemos todos!
Ao lado dos Reis Magos, de S. José e Nossa Senhora. A cada Natal, somos sempre mais. A rir e a chorar. A pedir e a agradecer. A cantar e a adorar.
E o Menino Jesus?
O Menino Jesus vai nascer!
Bom Natal a todos.

Dezembro de 2015

#Jardim

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Catalunha e eleições (V)


Os resultados deste acto eleitoral confirmam-nos eloquentemente duas coisas.
A primeira é que não é ululante ou suficientemente esmagadora a pretensão independentista. E, portanto, o passo ousado do governo deposto da Generalitat era isso mesmo. Ousado. E não era tão representativo como o pretenderam apresentar.
A segunda é que justamente a questão da pretensão independentista é muitíssimo relevante e tem de ser respeitada e cuidada com seriedade. Metade (grosso modo) dos catalães querem uma Catalunha independente. Não há como desvalorizar. E não chega acenar com a Constituição.


#Escritório

Catalunha e eleições (IV)


Já aqui disse – e reitero – que acho que não devo ter «lado» porque não me sinto habilitado a compreender inteiramente nem a aspiração independentista catalã nem a convicção autonomista com a integração no Estado espanhol (o que é diferente de poder achar, como acho, que para Portugal e para a Europa a independência da Catalunha se afigura melindrosa e pouco recomendável).
Mas eu não confundo. E gostava que não me confundissem. Até porque desde logo eu não vejo uma pretensão independentista como sendo de esquerda ou de direita. E estou convencido que (como confessou o Francisco Mendes da Silva) também eu seria fraco o suficiente para «torcer» pela independência se o Puidgemont trocasse de lado com a inspiradora Inés Arrimadas (para verem quão fortes são as minhas convicções sobre o tema).


#Escritório

Catalunha e eleições (III)

Mesmo quando participante legítima do sistema democrático, há qualquer coisa de mal resolvido a que a esquerda mais radical e reaccionária não consegue nem escapar nem disfarçar.
Invariavelmente, projectam no sistema todos os males, suspeitas e perseguições. Se não é tudo observado de feição é porque é «ilegítimo» ou «ilegal». Claro que, depois, na hora dos benefícios, não se fazem rogados. Esse mesmo sistema assegura-lhes regalias, prerrogativas e liberdades? Aí sugam-nas até à última gota!

Desta feita, mais uma vez, não faltou o queixume. As eleições «são ilegítimas porque foram convocadas de forma ilegal», zurziu durante o dia Sergi Sabrià, porta-voz da Esquerda Republicana da Catalunha. É o sistema que os persegue (mesmo que, à vista de todos, não os prejudique).
Eu sei que não enjeitam os epítetos de radical e de reaccionária. Mas eu juntava-lhes o de ressabiada.


#Escritório

Catalunha e eleições (II)

Não procuro explicações, porque já são «muitos anos a virar frangos». Mas não deixo de protestar.
Passei grande parte do dia em viagem ligado à telefonia. As nossas estações noticiosas (pelo menos a TSF e a Antena 1), como seria suposto, têm enviados especiais a relatar-nos in loco o ambiente, as leituras e a evolução dos acontecimentos. Ouvi mais de quatro directos. Quatro. Ora em quatro seria normal ter «sentido» o ambiente e auscultado testemunhos dos dois lados da contenda eleitoral. Mas não. Todos os quatro, seja de que sintonia for, brindaram-nos com testemunhos, gritos e leituras de um só lado e de um só lugar. Da sede da Esquerda Republicana da Catalunha. Essa mesma. A força política que, ao que parece, não será nem a primeira, nem a segunda, mas a terceira força política mais votada. Mas era de esquerda e independentista. Isso era. Claro.
Ontem nos Estados Unidos, hoje na Catalunha. Só nos dão a conhecer um (o seu) lado …


#Escritório

Catalunha e eleições (I)


Nunca consigo ficar indiferente. Até porque há qualquer coisa de comovente e inspirador nos actos eleitorais livres e massivamente participados.
Os catalães podem ter muitos defeitos mas sentimos bem a sua força e o seu pulsar democrático. No mínimo é um povo que se dá ao respeito. O que eu respeito especialmente.


#Escritório

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Valer a pena

Fala-se muito do alto preço da convulsão e da instabilidade económica e política que a crise da pretensão de independência na Catalunha tem provocado (mede-se por empresas que alteraram as suas sedes, pelo número de turistas que deixaram de o ser, pelos empregos perdidos ou não criados, e pela incerteza como o maior inimigo de qualquer economia).
A verdade é que ao lado dessa convulsão – e como é historicamente próprio destes momentos – a crise da Catalunha já serviu para revelar em larga escala essa líder inspiradora que é Inés Arrimadas. E olhem que se tiver servido para a conduzir à Presidência da Região, pode bem ter valido a pena.
#Inés
#Catalunha
#21D

#Escritório

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Segunda-feira de Natal

Cumpro o périplo de Natal – seja nas escolas seja nas actividades extra-curriculares – com a mesma fidelidade e devoção dos meus pares. Aplaudo as façanhas musicais e físicas dos meus filhos com a mesma entrega, o mesmo entusiasmo e o mesmo «acrítico» orgulho. Entre Igrejas e salões, ginásios e piscinas, campos e teatros, cumpro dedicadamente.
Mas estes fins-de-semana antes do Natal deixam-me derreado. Quer dizer, derretido. E não é de comoção …
Que bom que é segunda-feira.

#Saladeestar

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Uma composição ...

Assim de repente – e pondo de lado a icónica família César – já temos a Ministra do Mar e o Ministro da Administração Interna casados entre si, o Ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social que é casado com uma deputada e é pai da Secretária de Estado Adjunta, o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais que é irmão da Secretária Geral Adjunta, e agora a Secretária de Estado da Saúde que é casada com o ex-Secretário de Estado, ex-líder parlamentar e actual Eurodeputado. E imagino o que andará pelos gabinetes.
Já tivemos muitas e curiosas composições de Governos. Mas esta é seguramente uma composição ... (como direi?) ... raríssima.

#Escritório

Não confundamos

O problema destes casos como o da Raríssimas (instituição que não conheço pessoalmente) é a lama que lança sobre tantas instituições congéneres que prosseguem abnegadamente causas sérias e louváveis, com recursos escassos, por vezes substituindo o Estado em responsabilidades elementares e prioritárias.
Ao menos que este caso sirva para que muitas dessas instituições não se esqueçam que, mais do que nunca, ao lado da dedicação e profissionalismo (sim, o profissionalismo é necessário na acção social) tem de estar sempre a exigência e a transparência.
Conheço muitas instituições sociais modelares. Que não merecem (nem as causas e as pessoas que servem) o anátema do abuso e da irregularidade. A própria causa da Raríssimas merecia melhor sorte. Não confundamos.

#Saladeestar

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

E de dia não é Natal?

Sim. Eu gostava de uma recristianização pública dos enfeites de Natal. Até porque era justo esse regresso das luzes e dos enfeites dedicados a motivos como o presépio, o Menino Jesus ou os Reis Magos. E para além de justo era até mais bonito (compreendo mal as luzes sem motivos, ou com motivos dispersos e desenxabidos, tantas vezes em tons pouco acolhedores).



Mas a introduzir melhorias eu começaria por tentar reconciliar os ditos enfeites com a luz do dia. Se à noite a coisa passa e fica disfarçada pelas luzinhas do nosso encanto, de dia o cenário é muito parecido com um acumulado de andaimes espalhados pela cidade e pendurados precariamente pelas ruas mais comerciais. Até as árvores de Natal (que à noite são mais cones de luzes) de dia são uma espécie de instalação artística de metal frio e vazio (estou a ser generoso). Até percebo o abandono das árvores naturais. Mas ao menos preencham aqueles acumulados de ferros com folhas, fitas, bolas e afins, para que de dia também seja Natal …

#Saladeestar

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Não é só por ser o Masterchef Australia

Já o disse uma vez mas a verdade é que a cada programa renovo a admiração pelo Masterchef Austrália. Em especial pelo ambiente humano que nele se preserva.
É um concurso, e por isso os concorrentes concorrem entre si e querem ganhar uns aos outros. Mas essa concorrência não resvala para a canalhice, para o mau feitio, para o baixo nível. Mesmo no tempo da standardização dos temas e dos programas de entretenimento o Masterchef Australia distingue-se pela qualidade humana dos seus apresentadores e juízes. E ela estende-se – é sempre assim com as lideranças de qualidade – aos concorrentes, ao ambiente que se vive entre eles e ao testemunho que nos vão deixando à medida que o programa avança e aparecem as eliminações (sempre fundamentadas com naturalidade e justiça).
Mas se o Masterchef Austrália é um grande programa - que é! - a adesão crescente que vai merecendo (falo por mim) vai colher directamente ao estado indigente da concorrência. Nestes dias em que um qualquer passeio pelas alternativas é aterrador (SIC Notícias, TVI 24, CM TV) - onde se exibe sem pudor a clubite primária normalmente temperada pela deselegância e desonestidade intelectual - o Masterchef Austrália é um verdadeiro oásis do zapping.

#Saladeestar

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Mário Centeno e o Eurogrupo


Nem cego nem parolo.
A escolha de Centeno para presidente do Eurogrupo não é, obviamente, desprezível e tem importância e significado.
É uma vitória do Governo português, que com a actual estrutura de suporte se afirma num dos palcos de decisão europeus mais sensíveis (e essa medalha simbólica tem o seu valor, não há como negá-lo). É prestigiante para Portugal, que tem como titular da importante pasta das finanças alguém com currículo e reconhecimento (independentemente dos equilíbrios que lhe permitiram a eleição). E pode ser relevante no plano da definição ou conformação do debate interno que cada vez mais tende a projectar na «Europa», no «Eurogrupo», no «Euro», em «Bruxelas», uma espécie de bode expiatório de muitos dos nossos males e das impiedosas limitações que nos condicionam.
Mas também não vale a pena sermos deslumbrados (ou parolos, se preferirem um adjectivo mais corriqueiro). «Termos» o presidente do Eurogrupo não é «espectacular» para Portugal ao ponto de lhe dedicarmos infindáveis fóruns radiofónicos em tom de conquista e com expressões excitadas do tipo «o Ronaldo do Eurogrupo» (imagino a cara de gozo do agora incensado Shäuble a assistir ao deleite que gerou a sua expressão). E há, naturalmente, o risco de alheamento do próprio Centeno. É que ele não vai deixar de ser o titular da importante pasta das finanças no Governo de Portugal.

#Escritório

Quanto gosto de ti?

Mais que o mar.
Mesmo naqueles dias de ondas perfeitas
Areia quente e água maravilhosa.

Mais que a neve.
Mesmo naqueles dias de espuma virgem
Sobre as montanhas abertas ao céu e ao sol.

Mais que a Floresta.
Mesmo naqueles dias lindos de Outono
De folhas castanhas, amarelas e laranja de periclitantes.

Mais que a Chuva.
Mesmo naqueles dias na cama
Ao som das pingas na janela e do fogo à lareira.

Muito mais.
Mesmo naqueles dias banais.
De mar revolto.
De neve densa.
De Floresta despida.
De chuva intensa.
De ti?
Gosto muito mais.

Gosto sempre muito mais.

#Biblioteca