segunda-feira, 2 de outubro de 2017

As autárquicas de 2017 e o CDS

Sob o ponto de vista autárquico o CDS não é tradicionalmente um dos partidos da alternância (como são o PS e o PSD). O que quer dizer que o CDS só alcança a vitória em dois tipos de concelhos - naqueles em que o PS é pouco representativo (em que portanto os dois partidos da direita disputam entre si a liderança), ou naqueles em que é o PSD que se «acanha». É nos primeiros - naqueles em que o PS não é tão representativo - que o CDS vem fazendo o seu caminho rumo à recuperação do peso autárquico de que precisa (e que merece, acrescento eu). É assim em Ponte de Lima. É assim em Santana, na Madeira, como é assim em Vale de Cambra, em Albergaria a Velha e em Oliveira do Bairro (a nova conquista). Velas, nos Açores, é mesmo a excepção, onde a disputa, por razões muito locais, é com o PS.
Esta circunstância - e outras a que me referirei já - são a primeira advertência para as dificuldades que o CDS sempre terá neste tipo de eleições. É que um partido como o PS dificilmente deixa de assegurar níveis de representação entre os 20-25%, o que reduz o espaço de partilha à direita e sugere que esse espaço se preencherá em progressão (passando pelo PSD antes de chegar ao CDS). Porque o eleitorado ainda oferece alguma resistência à flutuação «per saltum» (o que à direita do PS beneficia o PSD em detrimento do CDS, sem lugar a ponderações de mérito). Há ainda que reconhecer o peso da tradição, do hábito, do voto por defeito. Também aí, entre o CDS e o PSD, é este que mais sai favorecido. Talvez o peso da tradição mereça uma expressão própria - corresponde ao voto de «manifestação standard» (inventei agora a expressão). O que é que isto quer dizer? Basicamente que quando o PS está no poder e um eleitor pretende mudar, o seu instinto vira-se para o PSD. Ou quando esse eleitor quer premiar ou reforçar a oposição, identifica-a com o PSD, antes do CDS. A primeira imagem de incumbente, de alternativa, de oposição, ainda beneficia o PSD, antes do CDS. E esta «tradição» acrítica é muito difícil de alterar.
Ora, é a esta luz que os resultados de ontem são extraordinários para o CDS. O primeiro exemplo, o mais representativo e também mais difícil, é Lisboa. O feito da Assunção Cristas - sublinho «o feito» - é extraordinário a todos os títulos. Ela conseguiu, sem margem para dúvidas, conquistar o lugar da alternativa ao PS. É a segunda força política no concelho. Com mais de 20% dos votos e com 4 vereadores eleitos.
Mas há mais resultados muito relevantes para o CDS. Bem sei que haverá especificidades locais (cisões, «faltas de comparência» do PSD», alguma fulanização de protagonistas «superiores» ao próprio partido, candidaturas independentes). Mas há um padrão na extensão do peso autárquico do CDS.
Se olharmos à Covilhã vemos o CDS com uns expressivos 15% (pena a fidelidade da Covilhã ao PS, porque o arrojo, a coragem e a qualidade do Adolfo fariam bem à sua terra). Se olharmos a Nelas, vemos o CDS com 25% e como segunda força política no concelho. Os mesmos 25% que vemos no CDS em Lamego. E vale a pena revisitar Ponte de Lima, onde a esmagadora maioria absoluta se alcança apesar de uma cisão no próprio CDS (que, a julgar pelos eleitores locais, foi bem dirimida a nível nacional pelo partido). E com esta referência regresso a Lisboa e a Assunção Cristas. É tão dela esta jornada eleitoral do Partido! Foi ela que deu o mote, quando sem receio, com enorme risco mas com evidente vontade (conta tanto a vontade!) anunciou a sua própria candidatura a Lisboa. Esse impulso de coragem política foi essencial, como se demonstrou. E foi justamente premiado.

Uma nota final para o meu Porto. O CDS não se apresentou «directamente» a eleições. Teve, no entanto, uma participação relevante e elegante (sublinho elegante) na candidatura vencedora. Merece totalmente a representação que terá na Câmara Municipal, na Assembleia Municipal e nas Juntas de Freguesia.
PS. Como é próprio nas eleições locais, em alguns concelhos as coisas não correram nada bem, com a perda de mandatos (designadamente onde «dói mais» que é na vereação) e com candidaturas e campanhas muito aquém do esperado e exigível. Mas mantenho, ainda assim, a leitura global muito favorável.

#Escritório

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