terça-feira, 31 de outubro de 2017

Inés Arrimadas

Mesmo para alguém, como eu, que não tem «lado» porque não se sente habilitado a compreender inteiramente nem a aspiração independentista catalã nem a convicção autonomista com a integração no Estado espanhol, há um lado a que não resisto. O dos protagonistas.


Olhamos, ouvimos e estudamos a figura do Pudgemont (há meia dúzia de meses nem o difícil nome sabíamos pronunciar). E olhamos, ouvimos e estudamos a figura de Inés Arrimadas. Ignorem por momentos (eu sei que é difícil) a questão estética – e quem me conhece sabe como não desprezo a estética na política. Fixem-se simplesmente na postura, nas intervenções, no conteúdo. Se em Pudgemont sentimos o oportunismo, a vacuidade estratégica, a coragem titubeante, em Inés Arrimadas, sentimos a convicção, a militância democrática, a coragem genuína. E – regressemos à estética – a fluência discursiva, a indumentária sóbria e elegante, o tom doce e firme, fazem de Inés Arrimadas uma líder invejável. Sorte a dos Catalães.

#Escritório

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Vou ser muito directo


300 Milhões de Euros. Sim, 300 Milhões de Euros.
Na sequência da catástrofe dos incêndios deste ano, é esta a verba (300 Milhões de Euros) que o Governo anuncia com pompa e circunstância. Parte desse montante são, aliás, linhas de crédito.
300 Milhões de Euros para recuperar o território, a floresta, casas, instalações industriais, estradas, infra-estruturas… Só quem não conhece a imensidão de território que está em causa é que pode ficar calado.
Eu não sei que país é este. E poupo-vos a exercícios de comparação. Mas 300 Milhões de Euros foi, por exemplo, o que o Estado gastou na estação de metro do Terreiro do Paço.
Uma estação de metro para o interior ... sinto vergonha.


#Escritório

Reportagem (do inferno)

Foi assim. Em Tourais foi assim.















#Jardim

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Sem cálculo e sem clubite


Vivo, por estes dias, muito impressionado. E uma das coisas que me tem impressionado é que perante eventos tão graves e tão profundos haja resistência ou impulsos de clubite. Estamos a falar de vidas (muitas!). Estamos a falar de meios elementares de subsistência. Estamos a falar da viabilidade de grande parte do nosso território comum. Perante isto, perante tamanha catástrofe, é absurdo medirmos as nossas reacções. É absurdo que nos preocupemos em estarmos alinhados com os «nossos», que evitemos dizer o óbvio para não afectar ou o governo ou a oposição (dependendo de quem forem os «nossos»).
Eu digo-o com todas as letras. Quero lá saber se o governo é de direita ou de esquerda. Quero lá saber se é do PS, do PSD, do CDS, do PCP ou do BE. Eu e todas as pessoas com quem vivi o inferno de domingo e da madrugada de segunda não queremos saber.
O que sabemos, sem clubite (porque somos livres para o dizer) é que quem circunstancialmente está à frente dos nossos destinos não tem (não teve comprovadamente) a capacidade para nos proteger, para nos interpretar, para nos levantar sequer.
E estamos a falar do que é absolutamente elementar.
É um governo PS (com apoio do PCP e do BE) que nos governa hoje? Se fosse um governo do PSD e do CDS eu, nas mesmas circunstâncias, diria e faria exactamente o mesmo. Porque as vidas, os meios elementares de subsistência, a viabilidade de grande parte do nosso território, não são de esquerda ou de direita. E valem mais – e antes do mais – que qualquer número de economês e politiquês, que qualquer afinidade ou alinhamento. São vidas senhores!
Claro que me manifestarei no sábado.
Sem cálculo e sem clubite.


#Jardim

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Obrigado

(com Rosarinho Montenegro Fonseca, Maria Pessanha Moreira, António Montenegro, Francisco MontenegroLuís MontenegroJoão MontenegroPedro Montenegro)
Há uma explosão de sentimentos a que não resisto. Gratidão, em primeiro lugar. Lamento e frustração, pelo que não foi possível salvaguardar. Alegria (sim, alegria) por sentir que fizemos o que devíamos ter feito, pela sorte que, apesar de tudo, tivemos, e, sobretudo, pelas vidas e bens poupados. E revolta. Muita revolta. Mas desta última ainda não é o tempo de falar.
Para já queria apenas agradecer as centenas (ou milhares, confesso que estou perdido) de manifestações de amizade, de comunhão, de solidariedade que me destinaram. Que nos destinaram.
Não consigo agradecer individualmente como mereciam (talvez vá conseguindo). Mas agradeço porque sinto quão genuínas e consoladoras foram.
Uma última palavra. Não me confundam. Não fui nenhum herói. Não fomos. Limitámo-nos a cumprir. Com a nossa terra. Com a nossa gente. Com a nossa família (de quem recebemos e a quem devemos entregar).
Só se, nos dias que correm, acharem que quem cumpre com os seus merece ser elevado a herói. Eu ainda não acho.
Obrigado a todos.


#Jardim

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Não sei por onde começar

Ao fim do dia, convocado de urgência, parto sobressaltado rumo a Tourais.
Pelo caminho cruzamos incêndios que nos ameaçam e destroem avassaladoramente. Terras, casas e matas. Tudo. Na A1. Na A25. Nas estradas nacionais que soubemos evitar.
Conseguimos chegar a Tourais. Não há acolhimento possível. Apetece chorar, mas não há tempo (nem é o tempo). Chovem fagulhas desembestadas pelo vento. Olho à volta e sinto o desespero e a impotência dos que já cá estavam. O cerco do fogo, a luz cortada, as mangueiras secas, tudo se conjuga num perfeito holocausto.

Não sabemos o que fazer. Sem água e sem ajudas, decidimos fechar a casa. Imaginamos que se isolarmos cada divisão da casa, talvez se consiga dificultar o contágio. É vã a nossa esperança, porque o fogo vem do céu. Pelas ruas o horror é completo. Começam a arder copiosamente casas no meio da povoação. Mesmo no centro ardem duas casas formando um céu impressionante de chamas poderosas.
Não há coordenação. Não há comunicações. Estamos entregues.
Desesperado (não consigo evitar repetir a palavra) tento substituir a protecção que o Estado não nos dá. Vou a casas, chamo as pessoas que humana mas irracionalmente não querem abandonar a sua "vida". Uns convencemos, outros não. Faço várias vezes o percurso Tourais-Vila Nova de Tazem, onde fica o único quartel dos bombeiros ao qual conseguimos chegar sem estradas cortadas. Os bombeiros não sabem de nada em concreto. Não sabem para onde e se devem ir. Não sabem sequer se há pessoas a evacuar. Digo-lhes que sim. Mas o que é mais necessário é um autotanque que possa acudir ao inferno cada vez mais indomável. Se ardem já 4 casas, com o vento, a chuva de fagulhas e a ausência de água e de ajuda, teremos (viveremos) o fim do mundo. No íntimo, lavado em lágrimas, cheguei a despedir-me da nossa casa. Numa das investidas desesperadas (desespero sempre) vou para o entroncamento da estrada onde estão dois militares da GNR - tão perdidos como qualquer um de nós - a cortar o último acesso a Tourais. Fico com eles, descrevo-lhes o horror de onde venho e insisto que precisamos de ajuda. Do Céu (com "C" maiúsculo) de repente avisto as sirenes dos bombeiros vindos de Vila Nova de Tazem. Era um autotanque! Salto para o meio da estrada para os "obrigar" a acudir Tourais. Virem, virem aqui! Passava das duas da manhã, era o primeiro sinal de ajuda depois de não sei quantas horas abandonados à nossa sorte e à sofreguidão imprevisível das chamas. A desgraça não foi maior graças àquela ajuda! Dentro do possível, passou a ser combatido o fogo dentro da povoação. As casas a arder, arderam na mesma. E três mais, ainda, que de tão próximas não foi possível evitar. Mas não se alastrou a toda a povoação.

Os ventos loucos e imprevisíveis começaram a ajudar também. Eram loucos e imprevisíveis, mas estavam a devolver as fagulhas aos focos de origem, onde já nada mais havia a arder. Os bombeiros perceberam que tinham de recolher as pessoas, o que também começou a correr ordeiramente. Pouco depois voltou a luz elétrica. E com a luz tivemos a água do poço que até então o motor não conseguia trazer. Dentro do caos e do desespero começámos a sentir-nos úteis e consequentes. Subíamos aos telhados, circulávamos à volta da casa e do largo à porta da cozinha. E tudo molhávamos. Não parámos. Ninguém parou.
Às 5 da manhã (mais coisa menos coisa) consegui dar uma volta à aldeia. De tão loucamente concentrado na nossa casa perdera a visão do conjunto. Cada um à sua maneira havia resistido. Inexplicavelmente, as casas haviam passado quase todas incólumes. Mesmo aquelas no meio de terrenos completamente negros de consumidos.
Já de manhã fui ver a Helena e o Fernando, e o Tonito e a Junta. Guardo os olhos embargados, os rostos extenuamos, mas a resistência e presença que sabia que não lhes faltava. E a dor porque a Aurora e o Matos não conseguiram salvar as suas casas.
Foi o horror. A impotência. A sensação de abandono. O desgosto da perda iminente. O desespero. Muito desespero. Mas afortunadamente sou dos que posso dizer que sobrevivemos. Nós e a nossa casa.
Desta vez não me contaram. Eu vi. Eu vivi.


#Jardim

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Presunções

- E então, leste a acusação?
- Li. Inacreditável.
- Mas olha que há a presunção de inocência até à condenação com trânsito em julgado …
- Sim. Há a presunção de inocência, claro. E há a presunção de que somos todos estúpidos.
- Sou capaz de acreditar mais na segunda...


#Jardim

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Sócrates e as indignações


Há dois motivos de indignação. O primeiro é a demora da investigação e do sistema de justiça. O segundo é a suspeita, traduzida em acusação, sobre um ex-Primeiro-Ministro (e relacionado com essa sua condição), dos crimes de corrupção, fraude e branqueamento.
Podem ficar indignados pelo primeiro motivo (e eu estarei convosco). Mas eu, por acaso, fico mais indignado com o segundo. Muito mais.
#Saladeestar
#Escritório

Olhem que eu acredito

Há uma certa italianização de Portugal que me agrada e que contrasta com os velhos tempos.
Sim. Eu sou do tempo em que invariavelmente víamos os outros nas grandes competições. Sou do tempo em que até jogávamos bem mas não conseguíamos ganhar, marcar, passar (quem ganhava, marcava, passava, eram as Itálias, as Alemanhas, as Holandas)....
Hoje não. Hoje nós estamos sempre lá. Somos incrivelmente competitivos. Marcamos mesmo quando parece que nem merecemos. Aparecemos fortes quando é mais preciso. Ganhamos, marcamos, passamos.
Agora a Rússia? Olhem que eu acredito.

#Saladejogos

Declaração unilateral de suspensão de uma declaração unilateral

Há os clássicos «agarra-me se não eu mato-o» ou o «fumei mas não inalei».
Há ainda a famosa «entrada de leão e saída de sendeiro»
E também serve bem aquela rábula do Ricardo Araújo Pereira a caricaturar o Marcelo Rebelo de Sousa sobre o aborto (com sim, não, sim, não).
Agora temos esta bizarria da declaração unilateral de suspensão de uma declaração unilateral.
#Escritório

Tangerinas

Eram (éramos ...) um grupo de 8 chineses. Quer dizer, não tenho a certeza, mas para mim eram todos chineses (imagino que seja irritante para japoneses, coreanos e tantos outros, mas eu tomo-os a todos por chineses).
Não se calaram. Não se inibiram. Não passaram fome....
Previdentes eram. Isso eram, que não lhes faltava nada. Os telemóveis de última geração, claro (a confirmar o estereótipo completo). As conversas confusas e absolutamente intraduzíveis (estou seguro de que me terão poupado a críticas - só lhes retribui silêncio, discrição e olhar conformado). E muitos sacos e saquinhos. Recheados de tudo quando havia para ir forrando o estômago. Empadas e folhados (foram expeditos a descobrir as nossas especialidades). Inofensivos frutos secos. Líquidos (não consegui perceber o que bebiam). E um saco de tangerinas que foi minguando até sobrarem apenas as cascas. Foi uma jornada e tanto!
Eu não sei que algoritmo preside às minhas reservas, mas da próxima quero tudo igual. De costas. Num daqueles lugares Tete a Tete e mesa no meio. E - indispensável - integrado num grupo. Ah, e tangerinas. Tem que ser um grupo que consome tangerinas. Muitas.

#Saladeestar

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

O mesmo baralho de cartas de há 30 anos


Olhamos para o PS e vemos António Costa onde «ontem» víamos António José Seguro.

No PSD vemos Pedro Passos Coelho, onde «ontem» víamos Manuela Ferreira Leite e «amanhã» – ao que parece – veremos Rui Rio ou Pedro Santana Lopes (que já víramos ontem).
António Costa, António José Seguro, Pedro Passos Coelho, Manuela Ferreira Leite, Rui Rio, Pedro Santana Lopes.
Há mais de 30 anos à volta dos mesmos protagonistas. Está na altura de comprar um baralho de cartas novo …

#Escritório

Rogério Martins

Recebeu-nos em sua casa. A nós, uns miúdos. Ainda que mais curiosos que deslumbrados. Com alguma presunção de pertinência e conhecimento. E com o interesse e a educação de quem quer aproveitar e sabe estar. Mas uns miúdos com vinte e poucos anos.
Não era o primeiro jantar. Já não sei se não terá sido o último (pelo menos daqueles em que participei).

O nome de Rogério Martins, do Engenheiro Rogério Martins, transportava-me para a política de indústria, antes do mais, e para os primeiros tempos de Sá Carneiro como Primeiro-Ministro (tempos gloriosos, aos nossos olhos). A ideia de conversarmos com um dos homens por trás do mito era suficientemente sedutora. Mas não era só isso. E não foi só isso. Quem conhece (já quase ninguém conhece) a vida e a história de Rogério Martins sabe bem que teve uma vida cheia, densa e que deixou rasto.
Guardo daquele jantar várias ideias. Uma das quais – talvez a mais relevante – a de que as luzes da ribalta são uma ilusão absolutamente transitória. E porque é assim – esta é a segunda ideia – vale a pena saber ser humilde mesmo no exercício das mais elevadas responsabilidades ou de cargos com especial influência e consequência. E depois – terceira ideia que guardo – não há azedume, ressentimento ou desilusão que abale o regresso ao «anonimato» – porque, no fundo, quando não houve presunção não deixará de haver serenidade e bonomia no período justo do recolhimento. A conversa não foi bem sobre isto (foi mais sobre política e episódios vividos). Mas, afinal, foi também sobre isso.
Naquela abertura para conversar connosco, para mais recebendo-nos em sua casa, estava um modo de vida. Não sei se algum de nós (Gonçalo MatiasGonçalo Veiga De MacedoPedro VelezFrancisco Pereira Coutinho, David Oliveira Festas, Manuel Gil Fernandes) lhe agradeceu devidamente. Eu não. E já não vou a tempo.



#Saladeestar

#Escritório
#Jardim

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Independemente da Catalunha


Sinto-me completamente inabilitado para comentar, com um mínimo de profundidade, o que se está a passar na Catalunha.
Mas não resisto a fazer um pequeno comentário lateral (que é independente – «independente» sem conotação – da disputa ou da crise Catalã).
A minha simpatia ou distanciamento face a uma determinada luta pela autodeterminação de uma região não depende de os líderes ou movimentos pela autodeterminação serem de esquerda ou de direita ou, se quiserem, de a perspectiva do Estado cuja independência se disputa, vir a ser um Estado, social e politicamente, à esquerda ou à direita.


#Escritório

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Rui Rio

Sob o ponto de vista político estou demasiado distante de Rui Rio.
Do que lhe conheço e ouvi sobre a organização do Estado, sobre o sistema judicial, sobre o pluralismo e o funcionamento das instituições democráticas, sobre a cultura (não apenas a cultura democrática, mas também a propriamente dita), sobre os costumes e os valores, sobre a mundividência, a visão e a postura na política, estou, repito, demasiado distante de Rui Rio.
Seria (será?) uma péssima escolha para a liderança do PSD.

#Escritório

Bom som

Estou, em modo repeat, quase refém desta música. Há mais ou menos uma semana. Há sons piores.


Aproveitem que é muito bom.

#Saladeestar

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

As autárquicas de 2017 e o CDS

Sob o ponto de vista autárquico o CDS não é tradicionalmente um dos partidos da alternância (como são o PS e o PSD). O que quer dizer que o CDS só alcança a vitória em dois tipos de concelhos - naqueles em que o PS é pouco representativo (em que portanto os dois partidos da direita disputam entre si a liderança), ou naqueles em que é o PSD que se «acanha». É nos primeiros - naqueles em que o PS não é tão representativo - que o CDS vem fazendo o seu caminho rumo à recuperação do peso autárquico de que precisa (e que merece, acrescento eu). É assim em Ponte de Lima. É assim em Santana, na Madeira, como é assim em Vale de Cambra, em Albergaria a Velha e em Oliveira do Bairro (a nova conquista). Velas, nos Açores, é mesmo a excepção, onde a disputa, por razões muito locais, é com o PS.
Esta circunstância - e outras a que me referirei já - são a primeira advertência para as dificuldades que o CDS sempre terá neste tipo de eleições. É que um partido como o PS dificilmente deixa de assegurar níveis de representação entre os 20-25%, o que reduz o espaço de partilha à direita e sugere que esse espaço se preencherá em progressão (passando pelo PSD antes de chegar ao CDS). Porque o eleitorado ainda oferece alguma resistência à flutuação «per saltum» (o que à direita do PS beneficia o PSD em detrimento do CDS, sem lugar a ponderações de mérito). Há ainda que reconhecer o peso da tradição, do hábito, do voto por defeito. Também aí, entre o CDS e o PSD, é este que mais sai favorecido. Talvez o peso da tradição mereça uma expressão própria - corresponde ao voto de «manifestação standard» (inventei agora a expressão). O que é que isto quer dizer? Basicamente que quando o PS está no poder e um eleitor pretende mudar, o seu instinto vira-se para o PSD. Ou quando esse eleitor quer premiar ou reforçar a oposição, identifica-a com o PSD, antes do CDS. A primeira imagem de incumbente, de alternativa, de oposição, ainda beneficia o PSD, antes do CDS. E esta «tradição» acrítica é muito difícil de alterar.
Ora, é a esta luz que os resultados de ontem são extraordinários para o CDS. O primeiro exemplo, o mais representativo e também mais difícil, é Lisboa. O feito da Assunção Cristas - sublinho «o feito» - é extraordinário a todos os títulos. Ela conseguiu, sem margem para dúvidas, conquistar o lugar da alternativa ao PS. É a segunda força política no concelho. Com mais de 20% dos votos e com 4 vereadores eleitos.
Mas há mais resultados muito relevantes para o CDS. Bem sei que haverá especificidades locais (cisões, «faltas de comparência» do PSD», alguma fulanização de protagonistas «superiores» ao próprio partido, candidaturas independentes). Mas há um padrão na extensão do peso autárquico do CDS.
Se olharmos à Covilhã vemos o CDS com uns expressivos 15% (pena a fidelidade da Covilhã ao PS, porque o arrojo, a coragem e a qualidade do Adolfo fariam bem à sua terra). Se olharmos a Nelas, vemos o CDS com 25% e como segunda força política no concelho. Os mesmos 25% que vemos no CDS em Lamego. E vale a pena revisitar Ponte de Lima, onde a esmagadora maioria absoluta se alcança apesar de uma cisão no próprio CDS (que, a julgar pelos eleitores locais, foi bem dirimida a nível nacional pelo partido). E com esta referência regresso a Lisboa e a Assunção Cristas. É tão dela esta jornada eleitoral do Partido! Foi ela que deu o mote, quando sem receio, com enorme risco mas com evidente vontade (conta tanto a vontade!) anunciou a sua própria candidatura a Lisboa. Esse impulso de coragem política foi essencial, como se demonstrou. E foi justamente premiado.

Uma nota final para o meu Porto. O CDS não se apresentou «directamente» a eleições. Teve, no entanto, uma participação relevante e elegante (sublinho elegante) na candidatura vencedora. Merece totalmente a representação que terá na Câmara Municipal, na Assembleia Municipal e nas Juntas de Freguesia.
PS. Como é próprio nas eleições locais, em alguns concelhos as coisas não correram nada bem, com a perda de mandatos (designadamente onde «dói mais» que é na vereação) e com candidaturas e campanhas muito aquém do esperado e exigível. Mas mantenho, ainda assim, a leitura global muito favorável.

#Escritório

E no Porto?

1. Ganhou Rui Moreira. Foi justo e importante. Tenho a certeza que o mandato será melhor que o discurso de vitória.
2. Há qualquer coisa que eu não percebi na vitória de Manuel Pizarro. Escapou-me. Mas lá que o discurso foi empolgado, isso foi.
3. Álvaro Almeida teve a serenidade e a postura que não lhe conheci quando se apresentou. Na reação aos resultados contrastou com o fraquíssimo resultado.
4. Há muita gente de parabéns. Muita gente de que gosto muito. E há agora projectos e ideias a cumprir. A bem do Porto!


#Escritório
#Salaodevisitas

O PSD ...

Lisboa, Porto, Gaia, Matosinhos, Oeiras, Gondomar. Isolo estes municípios, mas podia continuar a discorrer. Estamos a falar de grandes cidades, nas duas áreas metropolitanas. Onde, portanto, há mais eleitores.
Os resultados do PSD em cada um destes concelhos é absolutamente humilhante. Não estamos a falar de um caso isolado, de uma especificidade local (que as haverá), ou de uma má escolha. Não. É mesmo um padrão. Um partido que desiste - porque desistiu - de disputar muitos dos mais relevantes (em número de eleitores e em mandatos) municípios, revela falta de visão, falta de sentido (ou de razão de ser) e, no fundo, desorientação.
Não é bom sinal. E a distância para a infidelidade (que ainda não se manifesta completamente), a falta de hábito (há ainda algum voto por defeito e por preconceito), e para a mudança para outras paragens, é muito curta. E talvez seja justo.


#Escritório