segunda-feira, 31 de julho de 2017

«Nos em D'Bandada»


- E o «Nos em D’Bandada»?
- Incrível como em poucos anos se transformou num festival que inunda a cidade de música, de pessoas, de animação, sem resvalar para uma certa brejeirice que é muito difícil de evitar em eventos de massas.
- Bem verdade. Famílias completas, grupos de amigos, imensos estrangeiros. Vê-se de tudo. Simplesmente na rua para ouvir música, jantar, passear.
- Para mim, já é um evento anual absolutamente incontornável no mês de Setembro.
- Esquece que este ano não há …
- Porquê?
- Por prudência.
- Como assim?
- Porque coincidiria com o período de campanha eleitoral para as Autárquicas 2017.
- Como?
- Isso.
- Caramba pá. E eu a pensar que essa coisa da democracia madura e tal e coiso.
- Pois. Mas não.
- É cada uma?!


#Saladeestar

Viver

- Eu não passo sem a aspirina.
- Comigo é mais o Lexotan.
- Para viver? Guronsan. Fundamental.
- Esqueçam. Dragão. Cada ida ao Dragão é menos 10 idas à farmácia. Não há melhor terapia.
- E como é que fazes nos meses de Junho e Julho?
- Pois. Sobrevivo.



#Saladejogos

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Um dó li tá

O Pedro Correia, do consolidado blogue Delito de Opinião, teve o imponderado impulso de me convidar a escrever um texto para o famoso blogue. Mal ele sabia que não ia sair nada de jeito, como podem constatar:

UM dó li tá

Sento-me no sofá, de comando na mão, ainda sem canal de destino.
Por defeito (no sentido supletivo do termo), a televisão abre o sinal com os desenhos animados.
Um dó li tá, ouvia-se de fundo.

Hesito entre os canais de notícias e de debate político – que tendencialmente se dirigem a mim – e os de desenhos animados – que tendencialmente se dirigem aos meus filhos (certo de que a segunda opção preenche os desejos destes, e com enormes dúvidas de que a primeira preencha os meus).
Um dó li tá (ficou a ressoar na minha cabeça).

Política ou desenhos animados? De repente dou por mim a pensar que não será assim tão grande a distância entre uma e outra opção. Sintomática e preocupantemente, há uma sintonia entre as diferentes sintonias. Se de um lado me oferecem a patrulha pata com a missão de defender o bem, do outro impõem-nos diferentes patrulhas com a missão de defender os seus (e, francamente, não sei se o bem).

Patrulha-Pata1[1].jpg

Preocupa-me a bolha cada vez mais nítida e distante em que habitam os políticos que nos dirigem e «representam». A cada episódio, a cada debate, a cada declaração, o fenómeno acentua-se. O modo infantil como somos tratados talvez seja o mais embaraçante. Mas a forma mais ou menos contorcida como a verdade nos é apresentada, a sensação indisfarçável de que quem nos fala de voz grossa está condicionado e é pouco livre, não augura nada de bom e devia preocupar-nos a sério.

Tanto nos contam (como quem conta) que tudo se deveu a um raio, como nos dizem que «se fez tudo o que era possível». Tanto nos oferecem demissões em barda de chefias menores, como nos prometem que não foi nada de especial e que o material roubado estava fora de validade. Tanto nos garantem que não houve cortes e que se batem recordes de défices mínimos, como nos enganam com termos pomposos que representam a mesma sorte (cativações, dizem). Tanto nos asseguram dignificar as vítimas com as respostas completas, como nos escondem testes prioritários de popularidade. Tanto, tanto, tanto.
Um dó li tá (não deixa de me ressoar).

Tratam-nos como se fôssemos criancinhas, sem capacidade para discernir, permeáveis apenas ao argumento de autoridade. Cada declaração, cada promessa ou explicação, transpiram falta de verdade, de pudor até, e de inteligência. Porque é pouco inteligente presumir-nos incapazes de perceber. E ainda é menos inteligente desprezar a degradação do ambiente entre «eles» e «nós». Sobra sempre a sensação de que não são livres. Para a transparência, para a verdade, para a seriedade dos «crescidos».
Um dó li tá (raios, que não me sai da cabeça).

Sinceramente, para ser tratado como criança prefiro o original.
Fico-me pelos desenhos animados e entrego-me, para gáudio dos meus filhos.

Um dó li tá, quem está livre, livre está (ouço agora a frase completa).

Parece uma declaração política. Pois. Não é assim tão grande a distância entre a política e os desenhos animados.

#Saladeestar
#Escritório

Era uma vez um menino

Quando no passeio de mão dada com a avó, nunca aquela criança – mesmo nunca – escapava à tentação da travessura. Tanto podia ser a de se libertar e fugir, como a de saltar para a rua perigosa onde circulavam, ameaçadores, os carros e as motas. E lá vinha a pedagogia clássica à volta do «era uma vez um menino».
«Era uma vez um menino», começava sempre a avó, «que ia de mão dada no passeio, fugiu e foi raptado … nunca mais viu os pais, os irmãos e os amigos …», ou então «era uma vez um menino que ia de mão dada no passeio, decidiu saltar de repente, e … foi atropelado …». «E morreu?», perguntava o aflito petiz à avó. «Morreu», respondia sorumbática a avó, convencida do sucesso do método.
As histórias do menino conheceram várias versões. Quando o apetite rareava na hora própria a versão era a do «era uma vez um menino que não queria comer, não se portava bem à mesa e então nunca mais lhe deram de comer. Passados uns dias começou a ficar fraquinho, a não conseguir falar, ou rir, ou brincar ou jogar futebol. Como não conseguia fazer nada, já ninguém queria estar com ele. E deixou de ter amigos».
Nas sonoras birras, por exemplo, a história do menino servia para advertir para a perda de voz para sempre (o «para sempre» era o indispensável ingrediente dramático).
O enredo de cada história variava em função do ponto de partida. Mas o sujeito (um menino) era sempre o mesmo e o drama do seu destino era sempre impressionante.
Quando me couber aquele papel de avó (será mais avô), repetirei algumas daquelas histórias (pouco me interessarão os méritos pedagógicos, será mesmo por homenagem). E terei mais uma para contar.
Era uma vez um menino absolutamente normal. Nasceu no Porto, cresceu, tirou o seu curso, casou e teve filhos. E quando fez 39 anos recebeu centenas de parabéns. Centenas mesmo! Ficou de tal forma embasbacado que nem sabia como agradecer (porque sabia não merecer).
E então refugiou-se num «obrigado a todos» (a sério, não disse «a todas e a todos» porque se empertigava com esses tiques do politicamente correcto).
Não. Eu sei que não é uma história com drama, não parte sequer de alguma travessura e tem duvidosa utilidade pedagógica. Mas o sujeito (um menino) é o mesmo e o desfecho é também impressionante.
Muito obrigado a «todos», deste menino que vos estima!

#Saladeestar

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Não confundam

O que mais me incomoda (e desculpem estar sempre a voltar ao tema) não é esta coisa de serem 64 ou 65, ou 80 vítimas mortais. Fossem muito menos e estaríamos sempre, obviamente, perante uma enorme tragédia. E o número de vítimas não é de esquerda ou de direita. Nem deve ser causa de disputa política. Uma coisa é uma tragédia – que todos estamos convencidos que poderia ter ocorrido às mãos de qualquer governo – outra coisa é a reacção do Estado, naturalmente tutelado por um governo em concreto.

Eu tenho profunda pena – lamento quase ao ponto de sentir vergonha – que um governo (não interessa se é da minha simpatia), num contexto como o que enfrentámos de enorme tragédia, não tenha sido capaz de transmitir uma imagem de comando, de controlo, de gestão rigorosa e profissional das operações. Lamento que nos tenha sido apresentada uma ministra da administração interna que não serve nem nunca serviu (e eu digo isto porque o meu desejo era o de que tivéssemos um titular da pasta com competência e pulso, porque os há como é óbvio no PS e na sua área de influência). Lamento que os serviços do Estado também não tenham estado à altura do momento. É a partir daí que eu passo para o chamamento à responsabilidade do Governo. Não se trata de lhe assacar a tragédia propriamente dita (insisto: seria desonesto não reconhecer que ela poderia ter ocorrido às mãos de qualquer governo). Trata-se, sim, de lhe assacar a falta de comparência e de elevação. E, obviamente, trata-se também de lhe perguntar pela bandalheira e contradição dos serviços que tutela, por essa prioridade meio macabra do «focus grupo», e pela desconfiança com que contaminou a informação sobre tudo e mais alguma coisa.

A dúvida dos últimos dias a propósito do número de vítimas mortais e dos critérios assumidos pelo Estado nessa contabilização só foi tema porque não houve essa liderança e clareza. Pelo contrário, houve opacidade, gestão de popularidade, lançamento de dúvidas e perguntas de quem esperávamos respostas e certezas (na medida em que estas fossem possíveis).

Ai afinal confirma-se que são mesmo 64 as vítimas? Ainda bem, que eu não chafurdo nem nunca chafurdei no tema. Mas lamento que o ambiente gerado pelos protagonistas principais tenha consentido a dúvida.

A pergunta é retórica: como avaliam a reacção e a organização dos vários serviços públicos e dos vários membros do governo à enorme tragédia de Pedrógrão Grande? Ocorrem-vos termos como «irrepreensível», «impecável», «organizada», «transparente» e «elevada»? Associam aos protagonistas que nos foram exibidos uma imagem de comando e liderança?

O tema não é a lista de vítimas mortais estar ou não estar certa. Não confundam. O tema, como dizia lá em cima, é esta sensação de profunda pena. Profundíssima pena. Fosse outro o governo e tivesse acontecido tudo nos mesmos termos e podem ter a certeza de que, no mínimo, diria exactamente o mesmo. Não confundam.

#Jardim

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Portugal não é a Grécia

As fraudes eleitorais não se medem tanto pelo não cumprimento de uma série de promessas (de tão generalizada e de tão esperada, essa modalidade de fraude talvez já não sirva de argumento de deslegitimação). A nova fraude eleitoral – mais impressionante e mais perigosa – é-nos revelada pela adesão disfarçada ao essencial do programa combatido e de cujo combate nasceu o mandato ou a legitimidade para governar.
Podíamos falar de Portugal (expressões como «fim da austeridade», «virar de página» ou «fim da obsessão pelo défice» soam-nos e ressoam-nos na cabeça, transpiram reserva mental e não colhem no confronto com a prática se estivermos disponíveis para a avaliar desapaixonadamente). Sobram operações superficiais de cosmética (cada vez menos eficazes) e uma generosa paciência (para não dizer conivência), das instituições e da comunicação social.

É a esta luz que a entrevista ao Guardian de Alex Tsipras, do Syriza (o irmão grego do BE) é especialmente eloquente. E só surpreende pela franqueza (essa sim, nada comum, em contraste com o costumeiro disfarce e reserva mental). Nesta entrevista, Tsipras não apenas reconhece a sua impreparação e os grandes erros que cometeu, como enfrenta a ligeireza do seu «plano B», a ilusão de uma Grécia isolada, fora da Europa e do Euro. E, no fundo (em jeito de mea culpa) assume o cumprimento de um programa que não tem nada a ver com o que apresentou ao eleitorado e que corresponderia, sem grandes diferenças, ao seguido pelo partido «deposto».
Acaba por ser extraordinário que, apesar da estrondosa e confessada fraude eleitoral, Tsipras não se coíba de se exibir «peito feito» porque – é essa a razão do seu orgulho – a ele ninguém o poderá acusar de corrupção, desonra ou aproveitamento dos recursos do Estado.
É esta a frase:
«Se for à rua e perguntar sobre o governo, muitos podem dizer ‘mentirosos’, mas ninguém vai dizer que somos corruptos ou desonrosos ou que colocámos a mão no pote de mel».

«Portugal não é a Grécia». É o que se diz…

#Escritório

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Os sobremandatos

A propósito de uma sessão extraordinária da Assembleia Municipal do Porto que teve lugar esta semana, e que foi notícia não apenas pela circunstância de a votação ter sido renhida, mas também por ter sido «decidida» pelo voto desalinhado do deputado municipal do PS, Francisco Assis, ocorreu-me um suspiro de irritação (suspiro de irritação até será um eufemismo ligeiro). Não teve a ver com o sentido de voto do deputado municipal, nem teve a ver com ter sido desalinhado face à orientação da sua bancada. E muito menos teve a ver com o deputado em concreto (habituei-me a respeitar e a admirar a genuína liberdade com que Francisco Assis pauta a sua vida política).

O meu ponto é outro.

Há vários fenómenos nas candidaturas que os partidos nos apresentam que eu compreendo muito mal. Mesmo muito mal. Provocam-me o tal «suspiro de irritação».

O primeiro deles é o dos candidatos pára-quedistas. Especialmente nos grandes círculos eleitorais, como é o caso do Porto. As direcções nacionais não têm pejo em impor (e os líderes locais ou regionais não oferecem, ou não conseguem oferecer, resistência) candidatos sem a mais pequena ligação à região ou à terra em que se candidatam. É um fenómeno corrente em eleições legislativas, que é mais chocante quando envolve o próprio cabeça de lista. Nunca me hei-de conformar com esta «tradição».

Um segundo fenómeno é o do candidato formal. Uma espécie de pseudo candidato âncora. Aquela figura que dá a cara mas que todos sabem que não ocupará o lugar a cuja eleição se apresenta. Tanto pode ser um ministro como um deputado nacional ou europeu que, não satisfeito com a condição, vai como número 1 na lista para a Assembleia Municipal. Por vezes é simplesmente um militante histórico que pela idade, pela paciência ou por manifesta incompatibilidade, não ocupa ou não pode ocupar o lugar para que será eleito.

E depois há um terceiro fenómeno -  que é o que motiva este meu exercício de denúncia - que em certa medida até pode ser uma derivada do segundo. É o fenómeno do sobrecandidato que depois se transforma em sobremandato (acho que o nome se adequa). No fundo, é aquele candidato que já exerce outros mandatos, por regra na Assembleia da República ou no Parlamento Europeu, e que é também deputado na Assembleia Municipal (quando não mesmo Presidente) ou - no que considero ainda mais incompreensível - vereador municipal. Não partidarizo nem fulanizo este exercício de denúncia (ainda que tenha sido motivado por um caso concreto) porque encontro exemplos por todo o lado. Mas este fenómeno dos sobremandatos é absurdo. Que sentido faz alguém que já tem um mandato relevante na Assembleia da República ou no Parlamento Europeu (que portanto tem de estar em Lisboa ou em Bruxelas) acumulá-lo com o de vereador ou de deputado municipal? Desde logo, algum destes mandatos (se não mesmo os dois) será exercido aquém do exigível. Por outro lado, sai reforçada a ideia de que são sempre os mesmos e que nos partidos as coutadas de uns são as portas fechadas para outros que poderiam e deveriam participar. E, finalmente, sobra a sensação de que há aqui um problema de iure condendo. É que este fenómeno não deveria, pura e simplesmente, ser possível nos termos da lei!

No caso da sessão extraordinária da Assembleia Municipal do Porto desta semana, o aparte era o de que o deputado municipal Francisco Assis não era visto há já muito tempo naquelas sessões e que, desta vez, marcou presença porque aproveitou as férias do Parlamento Europeu. Não é preciso dizer mais nada pois não? Pois, suspiro de irritação até será um eufemismo ligeiro.

#Escritório
#Saladeestar

Impressões destes dias

1 - Para trás. Para a frente. Várias vezes. No das 8h. No das 9h. No das 10h. Corri tudo.
Ajudem-me, que não encontrei.
Onde é que passou a seráfica e estafada declaração do Carlos César a dizer que a não aprovação do Relatório da Comissão de Inquérito à Caixa é culpa do anterior governo e da sua política de austeridade neoliberal?

2 – Eu sei que tudo o que tem a ver com corridas está na moda. Mas esta já vem de há anos e, por muito que se repita, compreendo mal. Até porque deixa um misto de sensação, entre jogo e despacho. A maratona de votações no último dia antes de férias na Assembleia da República é pouco edificante, devia ser evitada e não ajuda à urgente dignificação da política.


3 – 30 anos. Fez 30 anos que Cavaco esmagou (literalmente) o PS de Vítor Constâncio. Em que o PRD de Eanes se lançou rumo ao inevitável desaparecimento. E em que o CDS percebeu o erro de ter enjeitado um acordo de coligação em 1985 e experimentou o dissabor do voto útil e de vingança. Sim, aquela entrega do povo de direita a Cavaco foi uma espécie de réplica das presidenciais de 1986 (no meio da multidão que saudava Cavaco pela vitória, lembro-me de ver várias bandeiras do PSD e do CDS, costuradas umas às outras, directamente vindas da campanha «P’rá frente Portugal»).

#Saladeestar
#Escritório

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Representação? É só fachada.

Dois dias depois das eleições de Outubro de 2015, era notícia a eleição da deputada Domicília Costa do Bloco de Esquerda. Nessa altura escrevi isto. Hoje dirijo estas palavras para os senhores, do mesmo Bloco de Esquerda, que a convidaram a sair. Como é óbvio, não houve na elaboração daquelas listas nem convicção nem representatividade. O Bloco é só fachada.

A representação

Anda meio mundo indignado com a eleição de uma doméstica do Porto nas listas do Bloco de Esquerda.
Na base da indignação está, invariavelmente, um certo desprezo e preconceito de superioridade face à agora deputada eleita. É quase um juízo de casta aquele que gera o tal desprezo, fundado na ideia de que um deputado tem de ser alguém que cumpra os requisitos da respeitabilidade convencional, da formação tipo ou da sofisticação das redes sociais (crivo que a senhora deputada não observará).
Eu arrisco-me a dizer que a senhora doméstica (uso o qualificativo por ser assim que a própria se apresenta) sabe mais da vida que metade dos senhores doutores, engenheiros, professores e demais senhores e senhoras que agora comungam com ela da condição. Suspeito que esses – que observam escrupulosamente os termos regimentais (olhe que não senhor deputado!), que sabem indignar-se com a teatralidade adequada e terminar as suas intervenções com um grave «disse», gerando os aplausos orquestrados das respectivas bancadas – talvez devessem prestar mais atenção ao país que a Senhora doméstica vive e representa.
Não conheço a senhora deputada. Mas já passei bastas vezes pela «desconcertante» experiência de ser confrontado com a sabedoria dos justos e simples para ter a humildade de não me precipitar nestas indignações colectivas e preconceituosas. E diria que nos está a fazer falta esse choque com os doutorados da vida.

Olho para a composição do Parlamento que nos representa e penso: entre um deslumbrado que enche a boca de lugares comuns e uma senhora que se confessa apreensiva pela mudança de vida que os eleitores lhe ofereceram, eu talvez me sinta mais representado pela segunda.

#Escritório

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Hello Everyone?


Tudo bem que acabem com o Ladies and Gentlemen.
Mas o Hello Everyone tem tudo para correr mal.
Eu sei lá quem me aparece do outro lado da porta?
E entre o Hello e o Everyone olhem que hesito. E logo em momentos em que a hesitação pode sair cara ...

#Saladeestar

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Ainda não

Não vou ser «desmancha prazeres». Não é o meu estilo. Muito menos com o meu Porto.
Mas não vejo motivos para celebrar. Ainda.

A escolha do Porto para a candidatura à sede da EMA é um bom sinal. E serviu para outras conquistas, não directamente relacionadas com esta à sede da EMA, mas que vieram por arrasto (como a de expor o absurdo centralista que nos governa e – não menos importante – o de nos pôr alerta para outras oportunidades em benefício do país todo). Mas sejamos objectivos. Não é uma grande notícia ao ponto de nos pôr a festejar. Sinceramente, ainda não.

Dito isto, não hesito nos adjectivos. Se o Porto conseguir, de facto, atrair a sede da EMA será a maior conquista para o desenvolvimento da cidade de há muitos, muitos anos. Não estou a exagerar. Quem olha aos números da Agência – ao orçamento, ao número de trabalhadores e respectivos salários, às viagens a que obriga, às reuniões que promove, às dormidas na região, etc. – conseguirá ter bem a noção do impacto que a instalação de um organismo destes poderá ter na nossa cidade.

Acredito muito nas nossas gentes. Especialmente naqueles a quem, em nosso nome, cabe gerir estes dossiers. Diria que é justamente essa a sua expertise. Ana Lehman (agora de saída da InvestPorto para o governo, mas para uma pasta não totalmente desligada do tema), Ricardo Valente, Filipe Ortigão Guimarães, o presidente Rui Moreira. São – têm sido – uma equipa com excelentes resultados na atracção de investimento e na capacidade de seduzir quem pensa em nós. E, neste dossier em concreto, o envolvimento de Eurico Castro Alves fez e faz todo o sentido.


Eu quero festejar. Mas ainda não.

#Escritório
#Salaodevisitas

Investigação à minha viagem ao Euro 2016

- Estás nervoso?
- Pá, sinceramente, estou só ansioso. Tenho a certeza que vamos a Paris.
- Vamos mesmo? O País de Gales fez um jogão contra a Bélgica …
- Tenho a certeza. E até devíamos ver como é que é de aviões. O mais importante era tratarmos da ida. O regresso logo se vê.
- És maluco, vamos gastar assim dinheiro, antes de termos a certeza?
- Deixa ver os preços. Olha, para Paris pela Ryanair, no dia 10 de manhã, se comprarmos agora fica por € 70. Arriscamos?
- Estou a sentir a pressão.
- Já agora deixa ver o regresso. Ui, esquece. Só se formos mesmo. O regresso está por quase € 300. Já percorri todas as alternativas.
- Fica à tua responsabilidade. Compramos o bilhete de ida. Se perdermos, foram € 70 (dói, mas não deita um gajo abaixo).
- Não vamos perder. Tenho a certeza. E vamos ser campeões. E vamos estar lá!
- Deus te ouça. Mas e como é que é de bilhetes para o jogo?
- Nem te digo os preços. O mais barato custa só € 300. Quer dizer, há uns a € 80, mas são pouquíssimos e não tenho esperança de os conseguir. Depois só há a € 300, € 600 e € 900.
- Caneco, até dói!
- É isso, vale o caneco. Vais ver.
- Avançamos?
- Avançamos. € 70. Bilhete de avião para Paris já cá canta. Agora eles fazem a outra parte (ganhar ao País de Gales) e só (este só é meio sonso) temos de tratar do bilhete de regresso e do bilhete para o jogo (o tal a € 300 … chiça!).
- Estou aqui a ver, e se há pouco ainda havia 12 lugares no avião de regresso mais barato, agora só há 6. Ainda nos vamos tramar.
- Fazemos assim. Pedimos à Joana (eu falo com ela, que não se importa) que esteja on-line, com tudo seleccionado, durante o jogo. Quando a coisa estiver resolvida em campo ligamos-lhe e é só carregar no «enter». Ela faz-nos isso com gosto.
- Bem pensado.
- Até já estou a sentir a jornada (o aeroporto, a viagem, a cidade, o estádio, o caneco – sim, o caneco, que eu vou lá para o trazer para «o nosso Portugal»).
- (…)
- Liga à Joana!
- Mas ainda faltam 15 minutos para acabar o jogo …
- Já ninguém nos tira da final! Liga à Joana! Ela que carregue no «enter»!
- Pronto. Só em aviões foi uma fortuna. Mas agora vamos mesmo. Ida na madrugada de dia 10. Regresso na madrugada de dia 11. Espero que com o caneco.
- Boa. Agora vou tratar dos bilhetes para o jogo. Vai ser uma bela aventura. E se só conseguirmos os de € 600, vamos na mesma?
- Pá, temos de conseguir os de € 300.
- Eu sei que é uma loucura, mas isto é uma vez na vida. Vamos ser campeões da Europa e nós vamos lá estar!
- Trata mas é dos bilhetes.
- Já estou a tratar. Estou à espera que me confirmem. Mas, entretanto, o Gonçalo (de Londres) e o Manel (de Bruxelas) conseguiram 4 bilhetes cada um pelo site da UEFA. São os de € 300. Dizem que me dispensam 2. Fica já arrumado?
- Claro!
- Fechado!

E assim fomos a Paris.
Sem a Galp, ou a PT, ou o BES, ou a Caixa. Porque não somos membros do Governo. Ou deputados. Ou pseudo VIP’s.
Fomos como adeptos. No meio dos nossos. Como pessoas normais. Que sabem o que custa a entrega. Cada fatia de pizza ou cada cachorro, cada bilhete de metro para chegar e regressar do estádio, cada cerveja. Tudo do próprio bolso.

Não fazem ideia de como a vida sabe muito melhor assim.

E assim foi a minha viagem ao Euro 2016.

#Escritório
#Saladeestar
#Saladejogos

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Ele ajuda imenso

Não vou falar sobre as quotas. Nem sobre as suas causas.
Também vou pôr de lado o equilíbrio, a vocação de cada um, as apetências e até o que diz respeito à natureza. São tantas as variáveis que não é disso que vou tratar.
Vou falar sobre nós (em sentido figurado). Sobre a nossa vida em casa. Sobre o absurdo que domina o nosso subconsciente. E como tudo fica ainda mais exacerbado na hora de cuidar dos filhos.

Vou resumir o meu ponto a este diálogo clássico:
- E ele, ajuda lá em casa? - Ele é impecável, ajuda imenso.

O marido ou pai que merece reconhecimento tem na voz da sua mulher (e da pequena sociedade que o rodeia) um sentido «ele ajuda imenso».
Ele muda a fralda aos filhos, dá-lhes banho e veste-os, dá-lhes de comer (e tantas outras banais tarefas próprias em casa e em família) e lá vem um «está a ajudar», «ajuda imenso».

Não há reconhecimento mais discriminatório e preconceituoso que este.
As mesmas tarefas, numa mulher e numa mãe, são simplesmente o cumprimento natural do que lhe compete. A cada fralda que uma mãe muda, a cada banho, a cada refeição que serve aos seus filhos, ninguém se lembra daquele «ajuda imenso». Ela nunca «ajuda imenso». Ela faz. E esse «faz» não lhe garante qualquer galardão e admiração.
Se invertermos os papéis, o exercício é ainda mais impressionante. Uma mãe ou mulher que por razões que não interessam a ninguém (que tanto podem ser as melhores como as menos respeitáveis) está menos em casa por troca com o marido, na linguagem clássica dificilmente se livra do «é ele que faz tudo!». Mesmo que ela faça as mesmas tarefas que, na distribuição tradicional, garantiriam ao marido o reconhecido «ajuda imenso». Porque a elas só está disponível fazer, sem elogio e sob pena de crítica indignada. Porque, no fundo, ainda não nos libertámos da ideia que é «delas» essa função. E que ele, se fizer alguma coisa, está a «ajudar» (como se fosse a avó ou uma tia que ajuda).

Dizem que as coisas estão mais equilibradas – que os maridos e pais, por contraste com os seus próprios pais, «hoje fazem tudo». Mas a verdade é que no plano reputacional os nossos subconscientes ainda discriminam.

Certamente, a cada fralda que um pai muda aos seus filhos, a cada banho, a cada refeição que lhes serve, está a fazer uma tarefa que não merece destaque porque é dele. E muito menos serve para alimentar aquele diálogo clássico do «ele ajuda imenso».

#Saladeestar

Eu por acaso continuo a festejar

Eu por acaso sempre disse que ia à final. Eu por acaso se tivesse que escolher uma final era aquela. Eu por acaso se tivesse que escolher uma cidade era aquela. Eu por acaso se tivesse que escolher um adversário era aquele. Eu por acaso se tivesse que escolher um filme era aquele. Eu por acaso até a lesão, até a substituição, até o prolongamento, até o protagonista, teria escolhido. Eu por acaso nunca me senti tão representado como naquele remate. Eu por acaso sempre achei que íamos ganhar mesmo. Eu por acaso, mesmo um ano depois, ainda revivo aquele momento como se tivesse sido ontem. Eu por acaso acho que éramos melhores.



Eu por acaso acho que não foi por acaso.

#Saladejogos

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Uma liderança para lamentar?

Paira a sensação de inversão. Já não há estado de graça prolongado. O resultado do défice já não é bem uma bandeira. De repente há governantes precários. Há contradições e falta de liderança. A careca do «virar de página» começa inevitavelmente a ser descoberta, com o embaraço das cativações nos serviços do Estado.

E como vai a vida no principal partido da oposição? Pois, prepara-se para eleger um novo líder parlamentar.
E de quem se fala?
Dois nomes: Marco António Costa (que é também figura de proa na comissão de defesa) e de Hugo Soares. Sim, Hugo Soares.
Querem falar de cativações? Comecem pela bancada parlamentar do PSD. Era cortar a eito!

Lamento, mas a liderança que se anuncia é mesmo para lamentar.

#Escritório

terça-feira, 4 de julho de 2017

A taxa turística

Sou, por princípio, avesso à criação de novos tributos (porque os que temos são mais que suficientes). E no caso da taxa turística de que agora se fala para o Porto, não alinharei numa espécie de preâmbulo que se dedique a invocar a necessidade de chamar os turistas a contribuir para os serviços públicos de que beneficiam porque cá não pagarão impostos. Este argumento não serve nem é verdadeiro. Os turistas pagam e ajudam a pagar muitos impostos. Pagam o IVA dos seus consumos em hotéis, restaurantes, transportes, compras e tudo o mais. Contribuem para a solvabilidade e lucros de muitos negócios (e, portanto, têm a sua «quota-parte» no IRC e derrama municipal dessas entidades), propiciam a recuperação de património (com uma infindável lista de sectores de actividade e entidades – sujeitos passivos de imensos impostos –, directa e indirectamente beneficiadas). Não faltam transmissões onerosas de imóveis directamente provocadas pelo turismo (com as devidas receitas de IMT para os municípios), não cessam de aumentar os veículos dedicados e justificados pela actividade turística (mais imposto automóvel, mais imposto municipal sobre veículos, mais imposto sobre os produtos petrolíferos, mais IVA). E nem falo das receitas directas pela contraprestação que pagam em cada visita e utilização de serviços municipais e estaduais (como museus, salas de espectáculo ou monumentos). Enfim, a contribuição dos turistas para as receitas tributárias do Estado e dos municípios é incontestável e não é de pequena monta. Não serve, portanto, o argumento de que têm de ser chamados a contribuir porque, em boa verdade, já muito contribuem.

Já serei sensível à ideia de que, com respeito pela proporcionalidade, com uma taxa turística reduzida e não dissuasora, se logram alcançar importantes propósitos públicos. Ouve-se falar do combate ao desequilíbrio do mercado imobiliário nas zonas mais turísticas (tenho sérias dúvidas sobre a bondade de uma solução que passe pelo reforço do município como proprietário de habitação dirigida a esse conceito indeterminado que dá pelo nome de «classe média»). Ouve-se falar também da criação de locais destinados aos transportes turísticos (aí, já nada terei a obstar). E admito que se possam isolar outros fins (assim, de repente, ocorre-me propor que se destine a promover soluções de mobilidade como seja a do atravessamento pedonal do rio Douro – aqueles passeios no tabuleiro inferior da ponte de D. Luís são terríveis e em períodos mais concorridos instala-se o caos … e o perigo).

De todo o modo, anunciando-se uma taxa de € 2, reconheço que aquela preocupação de proporcionalidade estará acautelada. Ainda não estou totalmente esclarecido quanto aos fundamentos e aos fins. Mas, como sempre, estou aberto a estar.

By the way, não gosto nada da expressão «pegada turística». Sugere a ideia de uma epidemia a extinguir. Ora, pelo contrário. Devemos acarinhar o turismo nem que seja para não sermos acusados de ingratidão, que eu tenho memória de como estávamos há 10 anos (para não ir mais longe).

#Escritório
#Salaodevisitas

Porto Rico

3 de Julho, 20:42h

We live in Porto Rico. Ou como se diz em português, vivemos num rico Porto.




#Salaodevisitas

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Um homem inteiro e livre

É uma ideia feita projectar em Medina Carreira o epíteto de pessimista. A mim nunca foi essa a marca que lhe associei. Por entre a sua expressão meio paternalista meio impaciente de falar, por entre aquele mastigar de boca e olhos semi cerrados, havia em Medina Carreira um exercício genuíno de liberdade. E quem é livre é inteiro. Sentíamos a liberdade sã em Medina Carreira. Como sentíamos em Silva Lopes, ou em Hernâni Lopes, seus pares nas finanças como na liberdade.

Fazem-nos sempre falta homens inteiros e livres.

#Jardim

Jornais de lá

Primeiro, o El Mundo a questionar a acção do Estado no incêndio de Pedrogrão (quando por cá ainda se declarava acriticamente que se «tinha feito tudo!»).
Agora é o El Español a divulgar informação muito mais detalhada sobre o desaparecimento de material militar em Portugal (quando por cá se tenta resolver o problema com meia dúzia de afastamentos intermédios transitórios).


De Espanha nem bom vento nem bom casamento. Mas ao menos deixem chegar cá os jornais de lá.

#Escritório

O jantar de despedida

Havia alguma sensação de injustiça na sala. Mas todos sabiam que era o dever – que no caso do António tinha mesmo muita força – a sobrepor-se.
Ninguém o demovia daquela mania de ser digno, íntegro e até desprendido. Podia ter ambições de carreira – que as tinha –, podia ter projectos extraordinários a meio – que os tinha – e podia representar um sobressalto financeiro na sua vida – que representava. Mas o dever e o exemplo estavam e estiveram sempre acima de tudo.

Serviam-se os cafés, ainda se rapavam os pratos daquele bolo de chocolate amanteigado, e antes que alguém o sugerisse, o António ergue-se, tilinta o copo com a colher do café, e anuncia que pretende dirigir umas palavras. Sem rodeios e sem falsas emoções diz de chofre: «fui eu!»
O silêncio toma conta da sala. Regressa a tensão e a emoção que justificavam aquele encontro e que, durante a refeição se havia transitoriamente esvaído.
«Fui eu», repete o António com a voz mais grave e dominada.
«Naquelas omissões, naquelas ordens, naquela desorientação, estava eu inteiro.»

Todos olhavam entre si. A menina Cândida – a mais antiga na organização – de olhos em vidro, baixava a cabeça. Aliás, todos baixavam. Queriam, sem o revelar, evitar os olhares cruzados, pelo embaraço das lágrimas evidentemente contidas.
«Sou eu o Director Geral», prossegue o António. «Fui eu que escolhi os coordenadores. Fui eu que aceitei os vários chefes de equipa. Fui eu que assumi as equipas e os colaboradores desta organização.»
Era conhecida e reconhecida a empatia do Director‑Geral com os accionistas, o que tornava mais difícil aceitar o passo que o António se preparava para dar.
«Os acontecimentos deste mês são gravíssimos – prosseguiu o António. De mim nunca ouvirão o contrário. São mesmo muito graves» (havia uma espécie de ordem surda, que ninguém sabia de onde vinha. Para não dizer nada, não qualificar, não sobrevalorizar e, sobretudo, não imputar).
Em tom grave, António quase grita. «Pouco importa que eu não tivesse conhecimento da urgência na substituição das condutas de gás. Aquelas vidas ceifadas no trágico acidente, estavam à minha responsabilidade última» (o António sabia que pouco interessava que conhecesse ou não essas vidas em concreto, que não lhe tivessem feito chegar os relatórios de manutenção e que tivesse ou não avançado com um plano de modernização da estrutura. Ele sabia que um líder não está à espera e tem de antecipar).
«Na semana seguinte foi o assalto às reservas das matérias-primas mais valiosas. Sei da gravidade e sei medir o que representa para a reputação da nossa organização» (o António sabia que a falha do sistema de vídeo vigilância e das equipas de contínuos não podia esbarrar numa comissão de inquérito e na mera reestruturação das estruturas intermédias).
«E, como se não bastasse, a fuga de informação sobre os novos produtos a apresentar no mercado, foi um privilégio para uns em detrimento de outros que eu não posso aceitar e com o qual não me posso conformar. É a transparência e a certeza de imparcialidade que fica em cheque» (o António sabia que o mercado sempre reconhecera a lisura e imparcialidade da organização e, portanto, no dia em que essa confiança fosse abalada e – pior – no dia em que não houvesse uma reacção drástica a um evento grave, seria o princípio do fim).

O António, concluiu: «agradeço a confiança que em mim depositaram. Peço desculpa às vítimas e às suas famílias, com quem comungo do luto e da dor. Peço desculpa à organização e aos accionistas pela enorme crise de confiança e de reputação de que padece a organização. Quero concorrer para o urgente resgate dessa confiança e reputação. E por isso assumo – porque é assim que devem fazer os responsáveis máximos – fui eu. E como fui eu, apresentei a minha demissão. Há momentos que não se fazem de empatias. E muito menos de índices de popularidade. A dignidade e a responsabilidade às vezes doem. E desta vez doeram a mim. Mas este é o momento para duas palavras apenas. Repito uma delas e acrescento a outra. Repito: Desculpa. Acrescento: Obrigado».

Desta vez não houve o burburim de fim de jantar. Não houve sequer o som espalhado das cadeiras a arrastar. Ninguém se levantou. Ninguém disse nada. O silêncio foi quase sepulcral, não fora a menina Cândida precisar de assuar o nariz da comoção. A dignidade e o exemplo do António, tão bem revelado naquele jantar, ficou na retina por muitos anos.

Já não há Antónios assim. Nem Constanças. Nem José Albertos. Nem Tiagos.

#Escritório