terça-feira, 30 de maio de 2017

Promessa cumprida?

Sou muitas vezes confrontado pelos opositores a Rui Moreira com a pergunta (na boca de quem a faz, pretende ser retórica) sobre que promessas relevantes Rui Moreira cumpriu. Normalmente a pergunta é feita em tom acusatório («diga uma!» como celebrizou Manuel Serrão).

Tenho pensado frequentemente nesta pergunta (já lá irei à resposta). É que a própria pergunta diz muito de quem a faz. Revela quão reféns estamos ainda do modelo de acção política e autárquica quase exclusivamente medido em «metros cúbicos de betão» e «quilómetros de alcatrão». E tem o condão de expor a perspectiva que cada um tem das necessidades actuais e modernas de uma cidade como o Porto. E – já agora – acaba por ser um interessante barómetro sobre que competências e que recursos julgam os cidadãos (alguns) que as autarquias dispõem.

Eu não desprezo nenhuma dimensão da acção política – declaro-o já, para que me poupem à acusação. Mas para este mandato de 2013-2017 numa cidade razoavelmente infra-estruturada, havia duas áreas que me preocupavam acima de todas as outras – a social (é inevitável numa cidade com mais de 30.000 pessoas registadas a residir em bairros sociais) e a economia e emprego (do meu ponto de vista, o verdadeiro motor da cidade – e mais do que da cidade, da área metropolitana).

A debandada geral de quadros qualificados para Lisboa e para o estrangeiro, a carência de novos investimentos, a diminuta comunidade de estrangeiros, a ausência do Porto no radar de potenciais destinos de investimentos e, no fundo, a incapacidade de garantir o futuro, era o maior desafio do Porto nesta fase da sua vida. Especialmente num país de ilógicos instintos centralistas como o nosso. Porque – e este é o ponto – a dinâmica que a economia da cidade tiver é a antecâmara das patologias sociais a que tem de fazer face. E é, depois, a razão para a construção (ou reconstrução) da cidade que, naturalmente, continua a ser necessária.

Não confundam. Eu próprio estou ansioso com a recuperação do Bolhão, do Rosa Mota, da estação de Campanhã (e por aí fora). E sei o que se fez e estará para fazer nesses dossiers emblemáticos. Mas mais ansioso vivo com a economia da cidade e da região, com a criação de emprego para os milhares de alunos das nossas prestigiadas faculdades que eu gostaria (eu e eles!) de manter por cá. Quase egoisticamente falando, dói-me o coração por cada amigo com quem deixo de poder almoçar ou jantar regularmente porque «foi trabalhar para Lisboa».
Ora se há «promessa» (não gosto do termo) que se cumpriu nestes 4 anos foi justamente essa. Poderei resumi-la numa palavra – InvestPorto – mas talvez seja curto. De repente, começamos a ver novos investimentos no Porto, abertura de agências, de centros de investigação, de sedes de plataformas digitais, de empresas tecnológicas. Dirão os mais críticos – ou mais exigentes – que não é suficiente. Eu respondo com a manifesta inversão do ciclo. E essa inversão era muito mais difícil do que se possa imaginar. Insistirão os tais mais críticos que não é mérito da autarquia. Aí eu respondo que não podemos ter vistas curtas e devemos reconhecer o mérito onde ele também existe. Houve todo um trabalho dedicado e quase desconhecido. Desse trabalho também fez parte a dinâmica cultural, a projecção de uma nova imagem, a presença em fóruns de promoção em mercados que nos interessam. E até a luta (verdadeira luta) para assegurar ligações aéreas para o nosso aeroporto. Mas houve sobretudo um trabalho profissional e dedicado para identificar potenciais interessados. A transformação do Porto numa cidade atractiva é tudo isso. E isso – que não é pouco – foi magistralmente alcançado numa base consistente e com futuro de esperança.

O próximo mandato tem tudo para ser extraordinário. Será necessariamente o mandato das obras emblemáticas (tem de ser!). Mas será o da consolidação desta inversão de ciclo e de atracção do Porto a todos os níveis. Assim espero.

Ah, a pergunta! Uma promessa cumprida? Não consigo responder nessa velha lógica.

PS: Diz Álvaro Almeida que «Rui Moreira é populista, traidor e déspota». Este tipo de declarações está nas antípodas do que esperava. E são tudo o que não precisávamos. Lamento. Lamento mesmo. Até porque revela falta de inteligência política (e revela outras coisas, embora prefira deixar o juízo moral para cada um).

#Escritório

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Ao sabor das negas

Isto de um treinador não querer treinar o Porto e preferir o Watford, por muitos desmentidos que se publiquem, é embaraçoso e merece reflexão.

O Porto pode já não ser suficientemente sedutor desportiva e financeiramente. Pode-se dizer que fica exposta, com uma eloquência penosa, a fragilidade da estrutura, tal como a vêem de fora. E sobretudo poder-se-á alegar que é indisfarçável a desorientação de uma administração que, em gritante contraste com um passado recente, já não convence quem convida.

Mas - tenham lá paciência - também não fica bem aos treinadores desta vida que se prestam à nega a um clube como o Porto. Com todo o respeito pelos Watfords, pelas Premier Leagues, e pelo dinheiro, nunca é um marco (não forcei a palavra) na carreira de um treinador de 40 anos ter dito não ao Porto. Um "não" para poder estar à frente de uma equipa que luta por não descer de divisão e que augura celebrar um "campeonato tranquilo". Seja essa equipa de que país for. É que para mais - convém lembrá-lo - nesses campeonatos tão sedutores e com tão generosas remunerações há muito poucos clubes com presenças assíduas na Champions League, com apuramentos mais ou menos regulares para os oitavos de final da Champions, que conquistam ou que lutam todos os anos pelo título de campeão. E já não falo do currículo europeu (nesses campeonatos dourados não são mais que 2, e às vezes nem isso, os clubes que tem semelhante folha de glória). Cada uma dessas negas ao Porto é no fundo expressão de impotência, de medo ou de parca ambição.

A mim interessa-me o Porto. É com o Porto que me preocupo. Tenho a certeza que regressaremos. Não saberei quando. Mas talvez seja mais cedo do que a razão sugere. Afinal foi contra todas as probabilidades, contra essa mesma razão, que conquistámos e nos fizemos maiores que esses ricos e sedutores. E é com cada uma dessas negas que o nosso regresso será mais saboroso.

Daqui www.reflexaoportista.pt 

#Saladejogos

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Mais uma convocatória da selecção

Faço sempre minhas as convocatórias do seleccionador. A partir do momento em que estão lá não há jogadores que não goste ou a quem negue a minha entrega. Mas, pela enésima vez, verto uma lágrima. Não é pelo Renato. Nem pelo Eder (obrigado Eder, nunca será demais agradecer!). É mesmo pelo proscrito Ricardo Pereira. Não consigo perceber. Nem no meu clube nem na minha selecção.

#Saladejogos

quarta-feira, 24 de maio de 2017

O PSD e o Porto

Praticamente desde o início do mandato de Rui Moreira que acho que lhe fez falta uma oposição consistente, exigente e minimamente escrutinadora. Faz sempre falta a quem exerce o poder para, justamente, o exercer melhor. E no caso do Porto fez mais falta porque se gerou um unanimismo que, do meu ponto de vista, ficou aquém do saudável, por muito que tenha correspondido ao sentimento geral (não há como negá-lo) e seja mais mérito de Rui Moreira que demérito da oposição.

Ora, a esta luz o exercício eleitoral com que o PSD se confronta no Porto não é nada fácil.
Para quem acha que uma proposta autárquica deve também responder pelo mandato que termina – e no caso do PSD, é o de um mandato na oposição – não sei bem como se possa dizer que o ponto de partida não é frágil. Penosamente frágil.
Desde logo tivemos 3 PSD’s na Câmara do Porto. Um (o independente Ricardo Valente) termina o mandato ao lado do Presidente, que a dada altura lhe atribuiu um pelouro relevante (é um facto que eu não sou capaz de criticar). O outro (Amorim Pereira), foi mais concordante que discordante, e até ficou marcado pelas discordâncias com o seu colega de lista. Ao terceiro (Ricardo Almeida), a quem coube assumir as discordâncias e os votos menos alinhados, não se lhe conhecem propostas ou ideias alternativas (as declarações de voto eram tendencialmente pautadas pelas dúvidas e não tanto pelas discordâncias). É um legado difícil aquele que Álvaro Almeida (o candidato que o PSD recrutou) também terá de defender. Eu sugeria que olhasse aos seus representantes na Assembleia Municipal. Foi aí que se cumpriu a oposição ou o escrutínio competente e que é tão essencial (repito, para que o poder seja ele próprio mais competente).

Quanto à mensagem e ao programa eu apenas recomendaria que não partissem de pressupostos em que as pessoas não se reconhecem. Podem dizer (e porventura estarão certos) que se podia ter feito mais e melhor (é uma frase feita que é sempre indesmentível). Mas não é inteligente começar por dizer que o Porto está parado, que o emprego está a desaparecer (como se essa análise se devesse fazer, numa cidade como o Porto, numa lógica estanque e concelhia), que não há atracção de investimento, no fundo que a cidade está pior ou simplesmente igual.

Ora nada disto é verdade. A cidade está transformada. A reabilitação é tsunâmica (bela palavra que inventei agora mesmo). Houve uma enorme transformação na dinâmica e até pacificação cultural. Assiste-se a uma capacidade aceitável para corrigir e transformar pequenos problemas que a cidade vai conhecendo. A cidade tem-se recriado e aberto a tantos que a visitam. Há mais oferta pública e privada em muitos domínios. O aeroporto conhece cada vez mais destinos e companhias, não obstante o desprezo da companhia de bandeira nacional. A Universidade e os Institutos de investigação não cessam de crescer e de se afirmar. Há atracção de investimento de qualidade. Há uma imagem pujante e que potencia a descoberta e revelação do Porto. É tão óbvio que não é inteligente ignorá-lo.

Mas há por onde criticar, ou, pelo, menos, há por onde se possa pedir meças ao actual executivo.
Se pensarmos nos grandes chavões do Porto de há 4 anos eles continuam aí quase totalmente disponíveis no terreno: do Bolhão ao Rosa Mota, do Matadouro de Campanhã ao Parque Oriental, da Estação de Campanhã (o famoso terminal) às Torres do Aleixo ou ao Bairro Rainha D. Leonor, já para não falar do trânsito em geral. Eu não estou a dizer que não se fez nada. E sei o muito que se trabalhou O que estou a dizer é que no terreno pouco ou nada se alterou nestes 4 anos. Haverá razões que o justifiquem (concursos, alterações de circunstâncias, condicionamentos legais, etc). E haverá razões para o contrariar.
Eu quero esse debate. É por aí que eu quero ver Rui Moreira a ser estimulado pelos seus adversários, a começar pelo PSD.

Para bem do Porto.

#Escritório

terça-feira, 23 de maio de 2017

Eu queria agradecer a minha manhã

E quando acordas, ainda cheio de sono, olhas para o relógio e … faltam 2 minutos para o despertador tocar?
E quando estás cheio de pressa, enfias a pastilha na máquina de café, carregas no botão, saem duas pingas porque o depósito está sem água e a máquina demora uma eternidade a voltar a funcionar?
E quando, depois de esperares pelo elevador que nunca mais chega, lá entras e distraidamente carregas no botão de um andar muito antes do teu para logo te esqueceres do lapso e saíres no andar errado deixando o elevador fugir?

E quando abres as notícias e percebes que só tens é que agradecer? O despertador, ou lá o que é, a máquina de café, o elevador e a tua vidinha banal que é um privilégio que te caiu no colo sem mereceres?
Agradece, mas é.

#Saladeestar
#jardim

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Quando for grande quero ser ...

Eu acho que nunca disse isto. Pelo menos nunca o disse assim.
Mas sempre o senti.
Desde os meus 8 ou 9 anos. Quando talvez não soubesse bem o que era. Mas era o que eu queria ser. E talvez já fosse, em certa medida.
Sim. Fui poupado às crises vocacionais. As dúvidas – quem não as teve? – puderam prosperar por outros domínios da vida que não o da vocação.
Na inteligência a que obriga, no desafio permanente que constitui, na tensão das dores alheias feitas próprias. No desencanto de um insucesso e na alegria de uma vitória. E sobretudo – muito sobretudo – na liberdade feita missão.
Continuo a alimentar a ambição. Quando for grande quero ser Advogado.

#Saladeestar

quarta-feira, 17 de maio de 2017

No meu tempo

Ainda bem que somos poupados - os nossos filhos nem imaginam - ao confronto embaraçoso com o exercício de imitação dos nossos pais naquelas precisas manias que mais mexiam com o nosso sistema nervoso. Especialmente a mania da recuperação permanente (e até emocionalmente sufocante) do passado duro e exigente que haviam vivido.
«No meu tempo tomávamos banho de água fria!».
«No meu tempo recebíamos um par de meias no Natal e não protestávamos!»
«No meu tempo éramos repreendidos na escola com a menina dos 5 olhos» (esta é só para quem sabe).

Quase sem darmos por ela, agora somos nós a abusar da muleta «no meu tempo» para forçar os nossos filhos a sentirem-se agradecidos com o que têm e a deixarem-se de protestos birrentos.

Então quando se trata de dar de comer às criancinhas é irritantemente inevitável: «no meu tempo não comíamos iogurtes todos os dias nem os tínhamos disponíveis ao sabor de cada ida ao frigorífico!» (no nosso tempo, em boa verdade, os que tínhamos eram quase sempre daqueles artesanais – já agora, ainda haverá dessas máquinas de fazer iogurtes?). «No meu tempo não tínhamos Cerelac em casa porque era muito caro!» (das coisas boas quando ficava doente era o mimo de uma Cerelac só para mim!). Ou então uma mais geral a empurrar a pressão emocional para os avós: «no meu tempo, ai de mim se não comesse a sopa! Ficava logo de castigo!».

Lá em casa, por exemplo, os miúdos ficam muito impressionados quando lhes lembro que «no meu tempo» só tínhamos dois canais, não podíamos escolher nem quando nem quais os bonecos (continuo a chamar bonecos aos desenhos animados) que íamos ver.
E por falar em televisão está a ser urgente um pequeno reforço deste discurso. É que é bom que os meus filhos saibam que ainda guardo o trauma da humilhação da Dora com o «Não sejas mau para mim».

Ganhar Europeus e Festivais da Eurovisão? No meu tempo não era nada assim!

#Saladeestar

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Que Poder é este?

12 de Maio. Fátima convoca-nos e uns quantos comparecemos.
Depois de uma mão cheia de horas (ou mais) de resistência e paciência, uma multidão de centenas de milhares de pessoas faz um silêncio quase sufocante.
Em uníssono cumpre-se o terço. Pai-Nossos, Avé Marias, Glórias. Intervalados com leituras serenas do Evangelho. Em português, árabe, italiano, espanhol, coreano, francês, alemão, polaco, ucraniano, inglês. A cada dezena erguem-se os braços ao Céu. O manto de velas ao som de «Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo» comove e aquece. De joelhos Francisco - o pastor vindo de Roma - fecha os olhos em absoluta intimidade.
Que Poder é este?

13 de Maio. Fátima mantém a convocatória e uns quantos voltamos a comparecer.
Mais horas de resistência e paciência acumuladas. A mesma multidão. Porventura ainda maior. Francisco entra com a descrição do peregrino.
A quem ergue o olhar, o que vê? A verdadeira universalidade da Igreja. Milhares de cartazes. Bandeiras do mundo inteiro. Talvez seja normal.
Do Algarve a Braganca. Normal. Estamos em Portugal.
Mas de todos os países onde se fala português. Do Brasil, a Angola, passando por Moçambique, indo à Guiné, a São Tomé e a Cabo Verde, e terminando em Timor (quantas bandeiras timorenses?). Também será normal. Alguns até viverão cá em Portugal. É normal.
Da Europa? Sim, quase todos. De Espanha (imensos), de Itália, de França, da Alemanha, da Irlanda, da República Checa, da Roménia, da Grécia, da Suíça, da Lituânia (que grande grupo), da Bélgica, da Polónia, da Ucrânia, da Rússia. Já nem sei quem mais ou simplesmente quem não estaria. Mas é também normal. Ou são ricos ou são muitos ou são vizinhos. É normal.
E da América Latina, quantos? Pois imensos, senão mesmo todos. Argentinos, brasileiros, mexicanos, costa riquenhos, uruguaios, colombianos. Do Panamá também. E da Venezuela. Tantos e tão impressionantes. Alguns com cartazes que nos gritavam com letra impressiva «SOS Venezuela». Mas também será normal. Poderão não ser ricos. Poderão ser de longe. Mas serão tantos que é normal alguns cá virem. E era a peregrinação do seu Papa.
De África sou de tal modo refém da minha ignorância que nem saberei distinguir de onde provinham tantos daqueles peregrinos. Vi do Quénia, da África do Sul, da Nigéria. E sei de tantos mais que não sei. Normal? Talvez. Afinal diz-se que é de lá que nos vem a força da evangelização de que tanto precisamos.
A Ásia não faltou. Aliás, fez-se representar em massa. Do Japão. Da China (tantas e tão visíveis as bandeiras da China). Do Vietname. Da Coreia do Sul. Estes os que eu vi e percebi de onde eram. Mas é sempre assim, é normal. São também tantos e alguns tão ricos, que é normal.
E é normal que da Austrália e da Nova Zelândia também venham muitos. Pelas mesmas razões. É normal.

E esta multidão, este mundo todo reunido, ao que vem? Por que se junta e aperta naquele recinto ameaçado por nuvens escuras rasgadas por um sol quente e inesperado? Por nada de especial. Por algo absolutamente normal.
Afinal, rezar, mais uma vez, o terço em absoluta serenidade e comunhão, não é fazer nada de especial. Desta vez, também em russo e croata.
Aquela multidão reza. Só reza e espera. E parece tudo suportar, para ali estar a rezar e a esperar.

E, finalmente, a missa, a canonização e procissão do adeus. É difícil compreender. E mesmo sem compreender é difícil esconder. Se não a comoção, pelo menos a dúvida. Uma multidão que se mobiliza. Que respeita os momentos. Que sabe fazer silêncio. Que reza em uníssono. Que simplesmente reza. No mais absoluto anonimato e transversalidade. Com algumas, poucas ou nenhumas horas de sono. Com escassa e mesmo nenhuma comodidade. Simplesmente reza porque quer rezar. Ali. Com aquela multidão universal e irmanada. Junto da Mãe comum («temos Mãe», gritava Francisco!) dirigindo-se ao Pai.
Que Poder é este?

Será tudo muito normal. Sempre normal. Mas de tão normal, será mesmo normal?

Que Poder é este?

#Jardim

A vitória de Salvador Sobral

Comunguei - e comungo - da excitação colectiva (e até infantil) à volta da epopeia do Salvador Sobral. Gostei da música à primeira. Fui gostando cada vez mais. E às tantas já era mais o desejo de gostar que prevalecia. Porque queria participar do movimento colectivo e cada vez mais disseminado por essa Europa fora.

Também fui gostando do próprio Salvador, da sua história e do seu jeito desajeitado de viver esta revolução à sua volta.

E finalmente dei por mim a entregar-me ao festival e, com especial intensidade, à vertigem gloriosa das pontuações (os twelve points for Portugal, de tão repetidos, já soavam a refrão).

O senão veio com as palavras da vitória. Não resistiu a tirar de esforço e, no fundo, a desdenhar sobre os seus concorrentes (os "fast food" e "fireworks", como lhes chamou). Não foi bonito. Mas eu, que deambulo entre momentos Salvador Sobral (dou-lhe a honra do epíteto), os momentos Tony Carreira e os fireworks e fast food, perdoo-lhe a fraqueza. Arrisco dizer que lhe estará a faltar uma "eurovisão". Agora que a vitória foi incrível, lá isso foi.

#Saladeestar

sexta-feira, 12 de maio de 2017

A caminho

Como quase sempre, vou a Fátima.
Sou naturalmente sensível ao significado da efeméride – 100 anos!
E não escondo que partilhar a minha peregrinação com o nosso querido Papa Francisco me emociona.

Mas vou e estarei como sempre. Junto de Nossa Senhora – a intercessora predilecta. No meio de todos. De ricos e pobres. Novos e velhos. Doentes e sãos. Porque cabemos todos. Sempre coubemos.

#Jardim

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Metros

Eu até compreendo que uma deputada que é também candidata à Câmara Municipal de Lisboa interpele o Governo na Assembleia da República reivindicando mais estações de metro para Lisboa (20 novas estações!). Já compreendo mal que a líder do meu partido, que por essa circunstância tem especial tempo de antena, aproveite o debate quinzenal com o Primeiro-Ministro para reivindicar 20 estações de metro para Lisboa e se esqueça de o fazer também para o metro do Porto.
Não foi uma intervenção nem na Comissão de Obras de Públicas, nem na Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território e Poder Local. Aí até compreenderia o detalhe da interpelação e diria que as «dores» do metro do Porto devessem ser assumidas por outro deputado do círculo eleitoral do Porto. Mas não foi. Foi no debate quinzenal com o Primeiro-Ministro.
Ora, sendo assim, se queria falar (presumo que com toda a razão, dou de barato) do metro de Lisboa, deveria ter falado do metro do Porto que, naturalmente, faz parte do mesmo dossier de investimentos anunciados pelo Governo. Eu sei que era preciso conhecer a necessidade da linha do Campo Alegre, ou da Linha de Gondomar (já para não falar na da Trofa). Mas se é na qualidade de líder nacional do Partido que fala, ou sabe ou alguém lhe faz saber. E às tantas até teria sido uma oportunidade para «apanhar» o Primeiro-Ministro na (mesma) ignorância. Foi pena.

#Escritório

terça-feira, 9 de maio de 2017

Ainda sobre Rui Moreira e o PS

Nota prévia. Eu talvez precise de dizer – para que não subsistam dúvidas – que não vejo que Rui Moreira pudesse (e portanto, devesse) ter feito coisa diferente nesta história com o PS.
Ainda que o preço tenha sido o de perder um dos seus leais braços direitos nestes 4 anos, há momentos e princípios que se sobrepõem à eventual eficácia (e, muitas vezes, até à amizade).
Dito isto – reafirmando, portanto, que Rui Moreira esteve globalmente bem – sobram os escombros. E, para lá da importante demonstração de genuína independência, eu não acho que esses escombros sejam muito bons. Ainda que do lado de Rui Moreira sejam mais facilmente suplantáveis.
Se é verdade que Rui Moreira perde Manuel Pizarro, mais verdade ainda é que Manuel Pizarro perde influência e protagonismo (no imediato, seguramente) e está diminuído como candidato alternativo. Não lhe consigo encontrar um discurso. Antecipo-lhe um exercício eleitoral difícil e porventura penoso. E enfrentará muitas perguntas de resposta difícil. Vai dizer mal do mandato de Rui Moreira? Vai dizer que faria diferente? E que responderá à pergunta óbvia sobre se está disponível para um acordo pós-eleitoral? Qualquer resposta a esta pergunta é má. Se disser que sim, reconhece-se como uma espécie de «second best». Se disser que não, fica a sensação de birra e de que afinal essa coisa do Porto em primeiro só funciona se o Partido estiver antes em primeiríssimo. E por muito que afirme que corre para presidente (pretendendo devolver a pergunta a Rui Moreira sobre se está disponível para um acordo pós eleitoral com o presidente Pizarro) a realidade não lhe consentirá essa ousadia. Estão em jogo os 3 vereadores de há 4 anos.

#Escritório

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Foi assim tão bom o divórcio?

Sempre achei que Rui Moreira talvez não tivesse pensado numa equipa para governar a cidade. Escolheu elementos leais, competentes e coesos, mas talvez sem a abrangência e os atributos que o cumprimento do seu programa pressupunha em caso de vitória, como veio a suceder. E por isso não fiquei surpreendido que dos 3 eixos principais com que se apresentou à cidade – (i) coesão social e habitação, (ii) cultura, (iii) economia e emprego – tenha acabado por entregar dois deles a vereadores de listas concorrentes e concentrado o remanescente em si próprio. Há, claro, o elogio da magnanimidade e da abertura aos concorrentes, mas sobra a dúvida sobre os seus.

Se a triste e inesperada partida do vereador da cultura já tinha dado o sinal de falta de equipa, com o Presidente a chamar a si o pelouro vacante, a curiosa convocatória de Ricardo Valente para o pelouro da economia e emprego (o nome não é bem esse, é «Desenvolvimento Económico e Social») – o homem que o tão criticado Menezes escolhera para a tão crítica e criticada área da economia e finanças – deixou um novo e ainda mais significativo sinal. Agora, com a saída intempestiva, mas inevitável, de Manuel Pizarro, voltamos a assistir àquela sensação inicial de equipa curta e desajustada à missão proposta. Rui Moreira, que já tem a presidência propriamente dita e o emblemático pelouro da cultura, concentra agora o da coesão social e da habitação. Não fora Ricardo Valente ter o da Economia e Emprego (que antes também estava no Presidente), e sobraria a sensação de que para lá de Rui Moreira há «pouco Porto» (e eu, que sei quem são e conheço os demais vereadores, não me parece que tivesse que ser assim).

E uma nota ainda. Para quem é um indefectível de Rui Moreira, para quem avalia muito positivamente o mandato – e naturalmente o cumprimento do eixo «coesão social e habitação social» – é estranho que saúde este divórcio com o PS. É que ele representa, na expressão de Rui Moreira, o inevitável rompimento com «um dos melhores», a quem estava confiado um papel essencial e tão bem cumprido (julgo que será essa a avaliação dos que agora se entusiasmam). Há muito de panfletário neste divórcio. E o entusiamo dos indefectíveis aí está para confirmar o aparente acerto do «investimento». Mas não sei se foi assim tão bom. Foi?

#Escritório

Eleições em França (III)

Ninguém em Portugal pode verdadeiramente capitalizar a vitória de Macron. Ela não serve de respaldo a nenhum dos nossos ilustres protagonistas. Aliás, se for inspiradora, pode até ser ameaça (e não tanto referência). Se ainda não temos extrema direita com expressão eleitoral que nos permita traçar o paralelo, temos um partido socialista aliado à extrema esquerda que, à luz do resultado, do discurso e do significado da vitória de Macron, não sai premiado.
Que, ao menos, a vitória de Macron sirva para levantar a cabeça (no sentido de erguer os olhos demasiado focados no umbigo). Já não seria mau, por exemplo, que nos libertassem desse exercício sonso e pernicioso de projectar na Europa todos os nossos males. Têm agora um interlocutor disponível para esta Europa tão mal tratada.

#Escritório

Eleições em França (II)

Não me é indiferente que mais de 30% dos franceses que votaram (acima de 11 milhões) tenham escolhido Marine Le Pen. E não creio que seja útil (até porque nem será bem assim) sugerir que a Frente Nacional capitaliza o voto não cosmopolita, menos letrado e ignorante. É também dessa arrogância que se vão fazendo estes números impressionantes e já é tempo de compreender esse eleitorado, ouvi-lo e, no fundo, lutar por ele a sério.

#Escritório

Eleições em França (I)

O facto da noite foi obviamente a vitória de Macron por uns inequívocos 66%. Mas há mais factos a destacar.
Nos dias que passam não é bem suposto ganhar – quanto mais com forte adesão popular – escolhendo falar da Europa e para a Europa.
Nos dias que passam, em que a juventude se arrasta até aos 40 anos (por muito absurdo que seja), a vitória de um jovem num velho Estado é também uma oportunidade e uma inspiração.
Nos dias que passam, ser magnânimo perante os que não se identificam é essencial, mas nem sempre se sente essa lucidez. Falar para esses desavindos e sentir a preocupação em resgatá-los é, do meu ponto de vista, o ponto mais essencial do discurso de vitória.
Nos dias que passam até o «b» «a» «ba» merece sublinhado. Foi bom ouvir falar de humanismo, de liberdades, de justiça e, até, de ecologia.
Belo discurso o de Macron. E que bem que ficaram aquelas bandeiras tricolores ao vento e ao som do Hino da Alegria.
Nos dias que passam, foram felizes os sinais.


#Escritório

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Vídeo árbitro

É certo que não é bem um segredo e muito menos é novidade. Mas eu gosto muito de futebol. E gosto imenso do meu clube (segredo ainda menos bem guardado). Dirão que gosto excessivamente. Eu respondo que não sei «gostar» sem me entregar.

Ora, eu alimento esta minha paixão pelo futebol e pelo meu clube da rivalidade com os demais clubes, naturalmente, e da tensão à volta dos jogos, dos jogadores, das jogadas, dos golos, das celebrações e das desilusões. Tudo banalidades, dirão.

Esta servidão que o futebol me impõe, tem, todavia, um lado menos bom, que não consigo evitar tanto quanto gostaria e que chega a prejudicar a minha «capacidade de gostar», quase recomendando-me ao afastamento. No fundo, as discussões à volta dos erros, dos penaltis e foras de jogo, das agressões e insultos, e dos próprios programas de debate (imagine-se!), deixou de me interessar e, portanto, tem afectado gravemente aquela minha entrega ao futebol e ao meu clube. Eu, que era caninamente fiel ao «domingo desportivo», ao «trio de ataque», ao «remate», e tantos outros, perdi a vontade. Não vejo um único programa de comentário e debate sobre futebol. E sei bem que isso quer dizer que estou afastado da televisão convencional aos domingos, às segundas, às terças e às quartas. E suponho que, como eu, tantos mais que comungam de igual paixão (não necessariamente pelo mesmo clube).

É a esta luz que me anima o anúncio do vídeo-árbitro já na próxima época. Não há-de ser a panaceia para a indigência do debate desportivo que nos sufoca actualmente. Mas contribuirá, seguramente, para afastar algum do ruído e devolver a confiança que tanta falta faz ao nosso futebol.

#Saladejogos

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Eu sei

Ontem dei por mim a pensar que bom seria que chovesse (no pedaço de terra lá de casa, ando a ver se medram meia dúzia de plantas).
Já hoje dei por mim a zurzir com a chatice da queima que aí vem, mais a sua barulheira e as lombas na circunvalação.
A natureza tem-me poupado aos cabelos brancos (em quantidade que se veja, pelo menos). Mas em interesses e pensamentos já me começam a sobrar «cabelos brancos». Estou a ficar velho. Eu sei.

#Saladeestar

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Os importantes


Há um fenómeno frequente que me abespinhava (e agora já só me diverte de tão certo) nos seminários, conferências e apresentações. Como é da praxe, estes eventos anunciam orgulhosamente uma figura de proa, mais chamativa, a quem a organização entrega, por regra, ou a sessão inaugural ou a sessão de encerramento (são aqueles que no anúncio costumam ter um asterisco «a confirmar»). Tanto pode ser um ministro, como um secretário de estado (ou ex-ministro, ou ex-secretário de estado), ou um Presidente de qualquer coisa. Tem é de ser alguém que é mais conhecido ou, pelo menos, tem um lugar de prestígio (tenha ou não, seja ou não, é essa a presunção).
O discurso é sempre o mesmo. Sempre. Repito, sempre.
Na sessão inaugural, o dito senhor ou senhora começa com os agradecimentos, os elogios à organização, louva a oportunidade do tema, lamenta não poder ficar (tem mesmo pena, é sentido) e ausenta-se porque tem sempre (sempre!) um compromisso inadiável. Por vezes, com muita pena (diz o próprio) nem sequer é possível esperar pelo fim do painel inaugural (e do púlpito vai directo para o compromisso inadiável algures no mundo dos importantes). Quando a conferência é no Porto a retirada é quase sempre explicada com um «tenho que sair, vou agora para Lisboa».
Quando a cena se passa na sessão de encerramento, por sua vez, voltamos a ter os agradecimentos, os elogios à organização e o louvor à oportunidade do tema, e voltamos a ter o lamento por não ter podido estar presente porque teve «um compromisso inadiável». E quando a conferência é no Porto a chegada em cima da hora (quando não atrasada) é explicada com um «vim agora de Lisboa».
Há pessoas que são mesmo importantes …

#Saladeestar