quinta-feira, 6 de abril de 2017

E nós, o que dizemos?

Cada vez é-me mais difícil. Não perder a sensibilidade, por um lado. Não me indignar, ainda do mesmo lado. E conseguir perceber o que motiva e o que explica a barbárie orquestrada, por outro.
É verdade e compreensível que nos correm mais facilmente as lágrimas quando as vidas tombam à nossa porta ainda que em números menos impressionantes (em Londres, em Paris, em Nice, em São Petersburgo, e por aí fora). Lá longe, nesses Iraques, Líbias e Sírias que não conhecemos e que se confundem na nossa geografia ignorante, a torrente de atentados, de ataques, de desgraças e desastres é de tal ordem que quase os enxotamos para um canto remoto das nossas preocupações rumo à indiferença e banalização.
Apesar de tudo, a força das imagens, os testemunhos de amigos e conhecidos que não comungam da nossa ignorância e dão o corpo ao manifesto (Gustavo CaronaTiago Filipe V. CardosoMariana VaretaIrene Guia, que não vos doam os dedos e não vos falte a coragem!), mantêm-nos ligados, qual velinha que resiste acesa. E a eles vamos devendo a comoção que ainda sentimos.
Mas não basta, é miseravelmente escasso e é sobretudo inconsequente.
Desta vez, o cenário de morte, de dor, de desumanidade, provocado por mais um ataque químico indiscriminado, volta a sobressaltar a minha consciência. É insuportável ver o sofrimento daquelas pessoas (e então das crianças indefesas …).
Infelizmente, não me surpreende a capacidade diabólica que os homens têm de perpetrar sofrimentos e danos em grande escala. Há um instinto de desumanidade na natureza humana que não é exclusiva do nosso tempo e está provada à saciedade.
Sobram sempre os apelos à comunidade internacional (aos Estados, à ONU, à UNICEF, e por aí fora). O problema é que estes apelos difusos a entidades desfulanizadas não servem e desresponsabilizam. Há uma dimensão pessoal que continuamos a não assumir.
A cada um de nós cabe, em primeiro lugar, controlar o instinto de indiferença. Depois, assumir a causa dos direitos humanos (refiro-me à paz, à liberdade, à vida, aos direitos mais elementares, e não aos ocidentais e florais que só servem para distrair). E depois, ainda, fazer sentir em casa (nas nossas comunidades, nas nossas associações, nos partidos em que militamos, nos programas políticos que apoiamos, nos orçamentos que aplaudimos) que os direitos humanos à escala global são uma prioridade. Eu não sei o que os nossos partidos, os nossos governos, os nossos orçamentos, dizem sobre estas crises e necessidades da condição humana. Em 2015, em plena crise dos refugiados, nada diziam (que eu fui ver). Hoje suspeito que se mantém o silêncio. O que diz muito de nós. Ou pouco.


#Saladeestar
#Escritório
#Jardim

Sem comentários:

Enviar um comentário