quinta-feira, 27 de abril de 2017

A ver se nos entendemos

1. O meu post de ontem – em que defendo que algumas raças de cães (deixo aos entendidos quais deverão ser) não podem ser admitidas como animais domésticos e de estimação pelo genético potencial violento – gerou imensos comentários de discordância (ver aqui). Não é pela discordância que regresso ao tema. É mesmo por achar que vai por aí uma enorme confusão. E porque – terei de o dizer – não apreciei especialmente o tom adoptado por alguns dos meus amigos.
2. Não confundam: eu não estou a fazer nenhuma crítica aos cães (não lhes posso conceder, em substituição da natureza, essa capacidade de imputação de culpa), estou simplesmente a socorrer-me de um dado da natureza (o seu reconhecido potencial de instinto violento) que, do meu ponto de vista, e demonstradamente, recomenda a dita proibição.
3. O argumento mais usado pelos que discordam de mim é muito baseado na ideia de que os animais (estes cães de determinadas raças) não são naturalmente violentos, emanando essa violência (quando revelada) dos seus donos e da «educação» que estes lhes destinam. No fundo, o argumento é o de que só haverá cães violentos se os donos forem violentos ou os instigarem à violência. Este argumento, de tantas vezes contrariado na prática, custa-me ter de enfrentar. O Afonso Botelho Vieira até teve o cuidado de dar o seu testemunho pessoal, relatando o episódio de violência que viveu com um dos seus cães, ao qual havia dedicado o mesmo carinho e educação que a outros cães de que era proprietário e com os quais não teve qualquer problema semelhante. Ora bem, os meus amigos estão a sugerir que o ataque de que o Afonso foi vítima se ficou a dever à violência do próprio Afonso? Não admitem que possa não ter essa origem e que o seu cão, num impulso natural de instinto, se lançou num violento ataque sem explicação? Ou por outra, não admitem a hipótese da explicação estar na natureza do próprio cão (essa sim, eu não discuto e, por isso, recomendo que se actue em conformidade)?
4. Eu, em certa medida, antecipei que não resistissem à comparação entre os homens e os animais (retoricamente, sugeri que me poupassem à típica frase feita). Lamento não ter sido atendido. Mas lamento mais que insistam na comparação. A dignidade do Homem, por muito desprezível que este seja, não permite esse nivelamento em que os meus amigos embarcam. Não faz qualquer sentido (e não quero ser paternalista ao ponto de explicar porquê). Mas, curiosamente, os que se lançam no exercício de comparação com os homens são, por regra, os que me lançam a crítica por querer comparar os cães de raça violenta com alguns animais selvagens. Mas eu esclareço: eu não disse que são animais selvagens (calculo que usem a expressão em sentido técnico). Sugeri – ou afirmei – que comungam de muitas das características desses animais violentos. O que está demonstrado. E, por muito que queiram ignorar, essa violência é, frequentemente, independente dos donos (que, como os meus amigos, podem ser umas jóias de pessoas) e, obviamente, é independente da culpa que os animais não têm porque não podem ter.
5. Eu não levo a mal algumas das acusações que me fizeram. Conheço os seus autores e sei da sua boa fé, recta intenção e, portanto, não atendo ao sentido literal de algumas das palavras que escolheram. Mas dispenso – não o deixo de dizer – que me acusem de egoísta, de baixar o nível para o gajo de bairro (até pode ser elogioso, depende do bairro). Primeiro porque não são bem argumentos. E depois porque não é verdade. Egoísta? Mas egoísta porquê? Baixar o nível? Como assim?

#Saladeestar

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