quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Infantis, é o que são


Resisto quase sempre a engrossar o coro de indignados contra os partidos.
O meu problema – ou a minha dissonância – com o tom generalizado prende-se com o ódio fácil a tudo o que seja «financiamento» e «partidos» quando conjugados.
Os partidos, como quaisquer organizações, carecem de meios financeiros para cumprirem o seu objecto.
Dá-se o caso do objecto dos partidos ser – permitam-me a frase feita – cumprir a democracia, isto é, participar da representação dos cidadãos. Não é coisa pouca e não é, sobretudo, coisa despicienda.
Para que não me julguem erradamente, declaro já que não concordo com a isenção envergonhada de IVA. Mas nem é isso que me indigna.
O que verdadeiramente me indigna – aí sim, engrosso abertamente o coro de indignados – é o instinto infantil dos que «ocupam» (ocupam parece-me o termo adequado) os partidos.
É infantil porque é infantil o jogo das escondidinhas. É infantil porque deixam o rasto à vista dos «progenitores» e expõem-se ao inevitável «puxão de orelhas». E é infantil porque não têm (ainda) noção do ridículo.
De tão infantis que são nem se dão conta do dano que causam à sua própria causa (que até nem é assim tão injusta).
Infantis, é o que são.


#Escritório

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Onde vais?

Agachado, ao frio, quase nem se via. Parecia que chorava mas não se lhe viam lágrimas. Talvez já nem as tivesse. Custava-lhe esta noite. Sentia-se esquecido. E não se libertava das saudades do tempo em que não lhe apetecia chorar.

De repente, do nada, sentiu um toque que evoluiu rapidamente para um abraço suave e querido. Ao ouvido soou-lhe um “anima-te”.
Não conseguiu perceber logo quem era. E não se interessou especialmente por saber. Animou-se e afeiçoou-se àquela providencial companhia. Podia estar frio. Podia ter fome. E saudades. Mas não estava só. O calor saboroso de um abraço, de uma conversa, quase de um colo, era tudo o que procurava. E teve.
Conversou. Riu. Entregou-se.
As lágrimas que não conseguira verter esquecera-as. E sentiu a alegria de uma noite especial.
Não queria despedir-se. Compreendeu até mal porque se havia de despedir.
- Onde vais? - perguntou.
- Vou nascer!

Santo Natal para todos.

#Jardim

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Natal

É sempre a mesma tensão. Uns acham que sim, que todos devem participar desde o início.
- Faz parte! - dizem.
- Mas os que têm menos de 5 anos não podem ir porque só vão atrapalhar... - avisam os demais.
Entre argumentos e contra argumentos, as mães tomam as dores dos mais novos e apresentam-nos à porta, devidamente encasacados e prontos para a investida na mata. Ano após ano, lá vamos todos recolher o musgo que há-de preencher o enorme presépio do nosso orgulho. E do princípio ao fim todos participam, de facto.
Mas não é só musgo! Há sempre um imponente lago de espelho, com o pescador de cana na margem (já com o peixe a morder o anzol). E rio! Tem um rio com água e corrente a sério, atravessado por uma ponte rústica de três arcos. E por entre os montes e vales tão delicadamente criados, convivem a Igreja matriz e a capela, o castelo e o fontanário, as casas grandes e pequenas.
E depois, bem, depois um mundo de pastores e suas infindáveis ovelhas, lavadeiras e anjos a tocar arpa e trompete, que preenchem o imaginário e a disputa entre os mais novos (eu sou aquela!, dizem elas, eu sou este!, diz o mais pequeno, não, eu sou aquele!, protestam outros). E no meio desta entrega colectiva, cada um encontra o seu lugar. Todos cabem. Cabemos todos!
Ao lado dos Reis Magos, de S. José e Nossa Senhora. A cada Natal, somos sempre mais. A rir e a chorar. A pedir e a agradecer. A cantar e a adorar.
E o Menino Jesus?
O Menino Jesus vai nascer!
Bom Natal a todos.

Dezembro de 2015

#Jardim

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Catalunha e eleições (V)


Os resultados deste acto eleitoral confirmam-nos eloquentemente duas coisas.
A primeira é que não é ululante ou suficientemente esmagadora a pretensão independentista. E, portanto, o passo ousado do governo deposto da Generalitat era isso mesmo. Ousado. E não era tão representativo como o pretenderam apresentar.
A segunda é que justamente a questão da pretensão independentista é muitíssimo relevante e tem de ser respeitada e cuidada com seriedade. Metade (grosso modo) dos catalães querem uma Catalunha independente. Não há como desvalorizar. E não chega acenar com a Constituição.


#Escritório

Catalunha e eleições (IV)


Já aqui disse – e reitero – que acho que não devo ter «lado» porque não me sinto habilitado a compreender inteiramente nem a aspiração independentista catalã nem a convicção autonomista com a integração no Estado espanhol (o que é diferente de poder achar, como acho, que para Portugal e para a Europa a independência da Catalunha se afigura melindrosa e pouco recomendável).
Mas eu não confundo. E gostava que não me confundissem. Até porque desde logo eu não vejo uma pretensão independentista como sendo de esquerda ou de direita. E estou convencido que (como confessou o Francisco Mendes da Silva) também eu seria fraco o suficiente para «torcer» pela independência se o Puidgemont trocasse de lado com a inspiradora Inés Arrimadas (para verem quão fortes são as minhas convicções sobre o tema).


#Escritório

Catalunha e eleições (III)

Mesmo quando participante legítima do sistema democrático, há qualquer coisa de mal resolvido a que a esquerda mais radical e reaccionária não consegue nem escapar nem disfarçar.
Invariavelmente, projectam no sistema todos os males, suspeitas e perseguições. Se não é tudo observado de feição é porque é «ilegítimo» ou «ilegal». Claro que, depois, na hora dos benefícios, não se fazem rogados. Esse mesmo sistema assegura-lhes regalias, prerrogativas e liberdades? Aí sugam-nas até à última gota!

Desta feita, mais uma vez, não faltou o queixume. As eleições «são ilegítimas porque foram convocadas de forma ilegal», zurziu durante o dia Sergi Sabrià, porta-voz da Esquerda Republicana da Catalunha. É o sistema que os persegue (mesmo que, à vista de todos, não os prejudique).
Eu sei que não enjeitam os epítetos de radical e de reaccionária. Mas eu juntava-lhes o de ressabiada.


#Escritório

Catalunha e eleições (II)

Não procuro explicações, porque já são «muitos anos a virar frangos». Mas não deixo de protestar.
Passei grande parte do dia em viagem ligado à telefonia. As nossas estações noticiosas (pelo menos a TSF e a Antena 1), como seria suposto, têm enviados especiais a relatar-nos in loco o ambiente, as leituras e a evolução dos acontecimentos. Ouvi mais de quatro directos. Quatro. Ora em quatro seria normal ter «sentido» o ambiente e auscultado testemunhos dos dois lados da contenda eleitoral. Mas não. Todos os quatro, seja de que sintonia for, brindaram-nos com testemunhos, gritos e leituras de um só lado e de um só lugar. Da sede da Esquerda Republicana da Catalunha. Essa mesma. A força política que, ao que parece, não será nem a primeira, nem a segunda, mas a terceira força política mais votada. Mas era de esquerda e independentista. Isso era. Claro.
Ontem nos Estados Unidos, hoje na Catalunha. Só nos dão a conhecer um (o seu) lado …


#Escritório

Catalunha e eleições (I)


Nunca consigo ficar indiferente. Até porque há qualquer coisa de comovente e inspirador nos actos eleitorais livres e massivamente participados.
Os catalães podem ter muitos defeitos mas sentimos bem a sua força e o seu pulsar democrático. No mínimo é um povo que se dá ao respeito. O que eu respeito especialmente.


#Escritório

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Valer a pena

Fala-se muito do alto preço da convulsão e da instabilidade económica e política que a crise da pretensão de independência na Catalunha tem provocado (mede-se por empresas que alteraram as suas sedes, pelo número de turistas que deixaram de o ser, pelos empregos perdidos ou não criados, e pela incerteza como o maior inimigo de qualquer economia).
A verdade é que ao lado dessa convulsão – e como é historicamente próprio destes momentos – a crise da Catalunha já serviu para revelar em larga escala essa líder inspiradora que é Inés Arrimadas. E olhem que se tiver servido para a conduzir à Presidência da Região, pode bem ter valido a pena.
#Inés
#Catalunha
#21D

#Escritório

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Segunda-feira de Natal

Cumpro o périplo de Natal – seja nas escolas seja nas actividades extra-curriculares – com a mesma fidelidade e devoção dos meus pares. Aplaudo as façanhas musicais e físicas dos meus filhos com a mesma entrega, o mesmo entusiasmo e o mesmo «acrítico» orgulho. Entre Igrejas e salões, ginásios e piscinas, campos e teatros, cumpro dedicadamente.
Mas estes fins-de-semana antes do Natal deixam-me derreado. Quer dizer, derretido. E não é de comoção …
Que bom que é segunda-feira.

#Saladeestar

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Uma composição ...

Assim de repente – e pondo de lado a icónica família César – já temos a Ministra do Mar e o Ministro da Administração Interna casados entre si, o Ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social que é casado com uma deputada e é pai da Secretária de Estado Adjunta, o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais que é irmão da Secretária Geral Adjunta, e agora a Secretária de Estado da Saúde que é casada com o ex-Secretário de Estado, ex-líder parlamentar e actual Eurodeputado. E imagino o que andará pelos gabinetes.
Já tivemos muitas e curiosas composições de Governos. Mas esta é seguramente uma composição ... (como direi?) ... raríssima.

#Escritório

Não confundamos

O problema destes casos como o da Raríssimas (instituição que não conheço pessoalmente) é a lama que lança sobre tantas instituições congéneres que prosseguem abnegadamente causas sérias e louváveis, com recursos escassos, por vezes substituindo o Estado em responsabilidades elementares e prioritárias.
Ao menos que este caso sirva para que muitas dessas instituições não se esqueçam que, mais do que nunca, ao lado da dedicação e profissionalismo (sim, o profissionalismo é necessário na acção social) tem de estar sempre a exigência e a transparência.
Conheço muitas instituições sociais modelares. Que não merecem (nem as causas e as pessoas que servem) o anátema do abuso e da irregularidade. A própria causa da Raríssimas merecia melhor sorte. Não confundamos.

#Saladeestar

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

E de dia não é Natal?

Sim. Eu gostava de uma recristianização pública dos enfeites de Natal. Até porque era justo esse regresso das luzes e dos enfeites dedicados a motivos como o presépio, o Menino Jesus ou os Reis Magos. E para além de justo era até mais bonito (compreendo mal as luzes sem motivos, ou com motivos dispersos e desenxabidos, tantas vezes em tons pouco acolhedores).



Mas a introduzir melhorias eu começaria por tentar reconciliar os ditos enfeites com a luz do dia. Se à noite a coisa passa e fica disfarçada pelas luzinhas do nosso encanto, de dia o cenário é muito parecido com um acumulado de andaimes espalhados pela cidade e pendurados precariamente pelas ruas mais comerciais. Até as árvores de Natal (que à noite são mais cones de luzes) de dia são uma espécie de instalação artística de metal frio e vazio (estou a ser generoso). Até percebo o abandono das árvores naturais. Mas ao menos preencham aqueles acumulados de ferros com folhas, fitas, bolas e afins, para que de dia também seja Natal …

#Saladeestar

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Não é só por ser o Masterchef Australia

Já o disse uma vez mas a verdade é que a cada programa renovo a admiração pelo Masterchef Austrália. Em especial pelo ambiente humano que nele se preserva.
É um concurso, e por isso os concorrentes concorrem entre si e querem ganhar uns aos outros. Mas essa concorrência não resvala para a canalhice, para o mau feitio, para o baixo nível. Mesmo no tempo da standardização dos temas e dos programas de entretenimento o Masterchef Australia distingue-se pela qualidade humana dos seus apresentadores e juízes. E ela estende-se – é sempre assim com as lideranças de qualidade – aos concorrentes, ao ambiente que se vive entre eles e ao testemunho que nos vão deixando à medida que o programa avança e aparecem as eliminações (sempre fundamentadas com naturalidade e justiça).
Mas se o Masterchef Austrália é um grande programa - que é! - a adesão crescente que vai merecendo (falo por mim) vai colher directamente ao estado indigente da concorrência. Nestes dias em que um qualquer passeio pelas alternativas é aterrador (SIC Notícias, TVI 24, CM TV) - onde se exibe sem pudor a clubite primária normalmente temperada pela deselegância e desonestidade intelectual - o Masterchef Austrália é um verdadeiro oásis do zapping.

#Saladeestar

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Mário Centeno e o Eurogrupo


Nem cego nem parolo.
A escolha de Centeno para presidente do Eurogrupo não é, obviamente, desprezível e tem importância e significado.
É uma vitória do Governo português, que com a actual estrutura de suporte se afirma num dos palcos de decisão europeus mais sensíveis (e essa medalha simbólica tem o seu valor, não há como negá-lo). É prestigiante para Portugal, que tem como titular da importante pasta das finanças alguém com currículo e reconhecimento (independentemente dos equilíbrios que lhe permitiram a eleição). E pode ser relevante no plano da definição ou conformação do debate interno que cada vez mais tende a projectar na «Europa», no «Eurogrupo», no «Euro», em «Bruxelas», uma espécie de bode expiatório de muitos dos nossos males e das impiedosas limitações que nos condicionam.
Mas também não vale a pena sermos deslumbrados (ou parolos, se preferirem um adjectivo mais corriqueiro). «Termos» o presidente do Eurogrupo não é «espectacular» para Portugal ao ponto de lhe dedicarmos infindáveis fóruns radiofónicos em tom de conquista e com expressões excitadas do tipo «o Ronaldo do Eurogrupo» (imagino a cara de gozo do agora incensado Shäuble a assistir ao deleite que gerou a sua expressão). E há, naturalmente, o risco de alheamento do próprio Centeno. É que ele não vai deixar de ser o titular da importante pasta das finanças no Governo de Portugal.

#Escritório

Quanto gosto de ti?

Mais que o mar.
Mesmo naqueles dias de ondas perfeitas
Areia quente e água maravilhosa.

Mais que a neve.
Mesmo naqueles dias de espuma virgem
Sobre as montanhas abertas ao céu e ao sol.

Mais que a Floresta.
Mesmo naqueles dias lindos de Outono
De folhas castanhas, amarelas e laranja de periclitantes.

Mais que a Chuva.
Mesmo naqueles dias na cama
Ao som das pingas na janela e do fogo à lareira.

Muito mais.
Mesmo naqueles dias banais.
De mar revolto.
De neve densa.
De Floresta despida.
De chuva intensa.
De ti?
Gosto muito mais.

Gosto sempre muito mais.

#Biblioteca


quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Belmiro de Azevedo


Nunca o vi, ou nunca o reconheci, por ser «o mais rico» ou «dos mais ricos». Essa circunstância – que é mesmo circunstancial – não é necessariamente sinónimo de especial virtude. E não é justo ser o epíteto no obituário de um homem como Belmiro de Azevedo que, sendo rico (era com certeza) não vivia à sombra dessa condição de privilégio.

Sempre identifiquei Belmiro de Azevedo como um homem da indústria, da gestão e dos negócios que, de facto, inovava, investia e gerava empregos. Muitos. E em Portugal.
E tendo-o feito sempre a partir do Porto e do Norte – quando, porque infelizmente se tornou numa opção mais exigente e incómoda, eram cada vez menos os que o faziam – eu tendo a valorizar mais o seu legado. Não são frases feitas. Qualquer exercício serve para demonstrar a importância social que protagonizou. Um pouco por todo o país, a Sonae e o respectivo universo empresarial representou e representa muitos milhares de postos de trabalho. Lugares qualificados (onde escasseavam) ou menos qualificados. E no Porto, em especial, quando olhamos para a nossa família, para os amigos, para os conhecidos, serão muito poucos os que passaram «à margem» da Sonae e das empresas do universo empresarial representado por Belmiro de Azevedo. Se não fomos nós próprios, foram os nossos pais, ou irmãos, ou cunhados, ou primos, ou amigos, ou simplesmente conhecidos.

Como se não bastasse, o seu ímpeto empresarial foi tão amplo, transversal e até original, que sentimos a sua marca no desenvolvimento de Portugal. Essa marca é também a do desafio. Ao seu círculo próximo de colaboradores, aos seus colaboradores em geral, aos seus parceiros, aos seus financiadores, consultores, advogados. E, de um modo peculiar, ao poder político. Não serão poucos os que, para lá do próprio potencial, devem a qualidade das suas carreiras, a sofisticação dos seus conhecimentos e a projecção profissional, àquele desafio e exigência com que sempre viveu Belmiro de Azevedo. Seja dentro seja fora da Sonae.

A partida de Belmiro de Azevedo não há-de significar o abandono desta marca de vida. Até porque o seu estilo vincado, com enormes virtudes e com defeitos (naturais e discutíveis) permanece em tantos e com diferentes expressões e notáveis inovações (mais um mérito).

A riqueza da vida de Belmiro não se expressa num qualquer saldo bancário ou numa qualquer capitalização bolsista de referência. Ela mede-se por aquela marca. De investimento. De gestão. De muitos empregos criados. De independência do poder. De resistência a Norte.

Não houve (nem há) muito quem.

#Saladeestar
#Jardim

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Ajuda ao algoritmo


Não há dia em que no meu timeline do Facebook não me sejam exibidos «sponsored» homens de meia idade e sorridentes, com direito a um «antes» e um «depois» (a parte sorridente é no «depois»), exibindo com orgulho o seu novo e frondoso cabelo (eu percebo o orgulho e o sorriso, qual Bruno de Carvalho depois da operação de emagrecimento).

Num gesto de boa vontade, vou dar uma ajudinha ao algoritmo que me selecciona.
Tenho especial «queda» para gastar mal o dinheiro (deve ser essa a parte do algoritmo que me selecciona) mas, para o bem e para o mal, não tenho ansiedades sobre a minha condição estética (já sei que devia, escusam de se desgastar com piropos desdenhosos).
E se é certo que todos temos as nossas «quedas», a do cabelo, contudo, não é uma das que me assista (até ver). E mesmo que fosse, não tenho a certeza que o tónico mais mobilizador seja a imagem sorridente do Jorge Gabriel ou do Rúben Micael (é sempre um dos dois que me é exibido como exemplo de sucesso).
Revejam lá isso.


#Saldadeestar

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Bragança calls

Eu, por exemplo (já o disse várias vezes) acharia muitíssimo bem que o Instituto Nacional de Estatística ou o Instituto do Mar e da Atmosfera (só para dar dois exemplos) se «deslocalizassem» não para o Porto mas para Bragança ou para Faro, ou para a Guarda ou Castelo Branco, ou Braga ou Beja (para início de conversa escolheria Bragança).
Ah, claro, os trabalhadores não quereriam porque têm as suas vidas em Lisboa (onde é que haviam de ter as suas vidas?). Já sei. Porque é lá que têm a casa que estão a pagar ao banco, a escola dos miúdos, a sogra e a melhor amiga.

Desculpem lá. Haverá algum movimento de «deslocalização» (detesto a palavra «deslocalização») para fora de Lisboa que mereça a aprovação dos respectivos trabalhadores?
Haverá algum movimento de «deslocalização» que cumpra os estudos de eficiência económica que reivindicam (como se estivéssemos a falar de um problema de eficiência e de estabilidade)?
Haverá algum movimento de «deslocalização» que não contrarie de frente o critério da racionalidade de custos?

Se continuamos a colocar o problema nesse plano – no dos trabalhadores, no da estabilidade, no da racionalidade imediata dos custos (tudo critérios que sensatamente devem ser medidos) – anuncio-vos já as conclusões: qualquer serviço relevante do Estado é em Lisboa e só em Lisboa que deve estar e permanecer para todo o sempre.
O problema, meus amigos, é que há mais Portugal para lá de Lisboa (circunstância que, já sei, não gera qualquer leve rasgar de vestes).
Esse Portugal para lá de Lisboa merece a atenção, o investimento e a presença equilibradamente disseminada do Estado. Porque ao lado do critério da racionalidade económica e de custos, está o do equilíbrio do território. E – não tenho dúvidas – esse equilíbrio, para quem não tem vistas curtas, é condição para a dita racionalidade económica a médio prazo.

É também isto que iconicamente se joga nesta história da mudança do Infarmed para o Porto. E seria muito interessante e simbólico mudar por exemplo um INE (ou parecido) para Bragança (depois do «EMA in Porto» eu alinhava numa campanha «Bragança calls»).

PS. E não me venham com a ideia (aparentemente sedutora) de que não faz sentido deslocalizar serviços estabilizados em Lisboa. Que o que faz sentido é fixar de início novos serviços e entidades fora de Lisboa (e só esses).
Pois eu não concordo. Primeiro porque o nosso problema não é um problema de défice de Estado (já temos que chegue). O problema é mesmo o do excesso de concentração em Lisboa. E depois porque o Estado que interessa e que representa as áreas relevantes de actuação naturalmente já existe. E, portanto, ou bem que a descentralização se faz através desses serviços que «interessam» ou não vale a pena perdermos tempo.

#Escritório

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Sois uns meninos

Para lá dos soundbytes e de uma certa libertação infantil de uns quantos que desataram a carpir sobre o Porto e as suas pretensões (o que para aí estava reprimido! Chega a ser confrangedor…) vai ser muito interessante seguir o processo político e social de mudança da sede do Infarmed de Lisboa para o Porto. Aliás, já está a ser.
Não me interessa a motivação. Pode ser um rebuçado, pode ser um simples gesto político discutível, pode ser por impulso na sequência da candidatura à EMA. Pode ser o que quiserem que para a análise de fundo pouco me interessa. Porque o que me interessa agora é o facto. E o facto é que uma determinada organização do Estado fecha portas em Lisboas e transfere-se para o Porto. Olhemos desapaixonadamente para ele.
De repente, na voz dos muitos que têm voz, parece impossível uma decisão dessas.
O que vai ser das 400 pessoas e suas famílias (parece que serão 400) que estão em Lisboa e que terão que ir para o Porto?
E como é que é dos custos dessa transferência?
E o edifício onde funciona actualmente o Infarmed, qual o seu destino?
Dúvidas e mais dúvidas, argumentos e mais argumentos, ansiedades e mais ansiedades (certamente legítimas, não questiono).
Meus amigos, têm muito a aprender. Muito mesmo. E se quiserem venham aqui ao Porto que nós temos ampla experiência. São muitos quilómetros. Mais de 20 anos. Milhares de famílias e amigos. Experiências pessoais. Quase que se poderia dizer que é a história da nossa vida.
Fazem ideia de quantas vezes uma organização fechou no Porto e se transferiu para Lisboa?
Fazem ideia de quantas vezes edifícios da nossa cidade ficaram desertos e sem destino porque a organização que o ocupava fechou no Porto e se concentrou em Lisboa?
Fazem ideia de quantas famílias nossas se mudaram de armas e bagagens para Lisboa porque o emprego do pai ou da mãe fechou no Porto e se transferiu para Lisboa?
E fazem ideia de quantas vezes temos que ir a Lisboa porque o serviço que precisamos só pode ser resolvido numa organização instalada em Lisboa?
Como se ouve muito por cá nos nossos bairros, «sois uns meninos».

#Escritório

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

EMA in Porto (só mais uma achega)

Eu não alimentarei a discussão que inevitavelmente se ensaiará sobre o empenho do Governo, sobre a opção pelo Porto ou por Lisboa, sobre a sorte que teria tido a candidatura portuguesa se a estratégia tivesse sido outra.
Uma vez ultrapassada a polémica interna não há notícia de que o empenho de todos não tenha sido inexcedível. E isso é muito mais importante que repristinar polémicas vãs.
Mas gostava de deixar ainda uma nota. O Porto (e arrisco dizer, Portugal) precisava desta candidatura. Fez bem ao Porto passar por este exigente processo. Fez bem ao Porto ter de se apresentar na Europa perante tão competentes adversários. Fez bem ao Porto ter de cumprir um périplo diplomático a que não está habituado. Fez bem ao Porto ter de ser bandeira de Portugal numa importante disputa política europeia.
Na Europa e em Portugal o Porto precisava desta candidatura. E não tenho dúvidas que ganhou.


#Escritório

EMA in Porto

Não foi. Mas podia ter sido.
Neste «podia ter sido» (talvez seja mais rigoroso dizer «podia mesmo ter sido»), está parte da relevância desta jornada à volta da EMA.
Várias vezes duvidei.
Num primeiro momento – como todos – duvidei internamente (chega a ser caricato que as primeiras, e porventura mais injustas, dúvidas brotem dos nossos, de nós próprios).
Num segundo momento duvidei que ainda fosse possível apresentar-nos a ponto de olharem mesmo para nós. O nível de exigência do processo era quase incompatível com os timings com que nos vimos confrontados.
Duvidei, também, do cumprimento de alguns dos pressupostos. Não se trata propriamente de duvidar do Porto. Trata-se, antes, de sensatamente reconhecer que o nível de abrangência e de exigência não era manifestamente fácil de cumprir.

Depois, passei a confiar. Confiei nas pessoas que nos representaram e que cumpriram magistralmente. E confiei que só poderia correr bem. Como correu, devo dizer.
Porque o processo nos honrou (e deixará marcas). Porque, de facto, os resultados revelaram que o Porto é um destino muito competitivo e completo. E porque se desta vez não conquistámos a EMA (e eu não escondo que vibraria com semelhante conquista) estaremos na calha para projectos e sedes futuras (o passo foi dado, e no radar já se lê «Porto»).

Um abraço especial ao Ricardo Valente (a quem abraço por todos).


#Escritório

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Carta aberta pelo Interior (para quem a quiser ler)

Passou um mês.
Têm sido muitas as iniciativas de solidariedade a favor do interior e das pessoas afectadas pela tragédia dos incêndios. Mais ou menos institucionalizadas, mais ou menos formais, mais ou menos eficazes. Não podemos deixar de valorizar esse esforço e essa entrega de tantos.

O meu tema, contudo, é outro. É o mesmo, mas é outro.
Refiro-me ao interior. A esse interior exposto e abandonado. Que está à mercê da sorte porque já quase não há quem dele cuide. É um problema do Estado? Claro que é. Mas é sobretudo um problema de todos. Porque o Estado «surfa» sempre a onda que, no curtíssimo prazo, lhe convém financeira e eleitoralmente. E, por nossa causa, o interior não lhe convém.

Eu, sinceramente, ainda pensei que o trágico 15 de Outubro (para mais, depois de Pedrógão) gerasse em Portugal um sobressalto consequente e radical em favor do interior abandonado. Um mês passado – apenas um mês depois – constato que era vã a minha esperança.
O que aqui digo sempre direi (mesmo que possa prejudicar os meus próprios e comezinhos interesses de menino instalado, de menino da cidade e do litoral). E não o digo por alinhamento ou conveniência. Porque há matérias (claro que há) que não são de esquerda ou de direita. Esta, aliás, padece do mal oposto – o de não ser de ninguém.
Dispensarei meias palavras.
A luta pela resistência do interior (acho que devemos colocar a questão em termos quase de sobrevivência), continua a não merecer mais do que desprezo (meio disfarçado, mas desprezo).

Ou bem que há uma mudança de hierarquias brutal, com consequências radicais no plano da afectação dos recursos financeiros do Estado, ou não vale a pena perder tempo.
O Estado e as populações – aquele com estas, estas por causa daquele e vice versa – foram desertificando uma parte cada vez mais extensa do nosso território. Pois se as populações não podem ser coarctadas (e naturalmente desrespeitadas) na sua liberdade de partir, ao Estado não assiste – não pode assistir – essa bonomia e tolerância.

Por estes dias, o debate público é dominado pela necessidade de reconstrução de casas que foram consumidas pelo fogo, pelo esforço de recuperação de pequenas indústrias e empresas (e até de parques empresariais completos) que representavam muitos dos postos de trabalho vigentes no interior. Eu não concordo. Porque eu não posso concordar com um modelo de intervenção que se baseie na ideia de reposição da situação anterior aos incêndios de 15 de Outubro. É preciso muito mais do que uma mera reposição.
Sem esforço, sem estudo rigoroso (como gostam tanto de apregoar), sem eufemismos, qualquer um de nós consegue apontar o caminho. Vários caminhos. É preciso recursos? Claro. Muitos! Mas o caminho é tão claro que custa aquele discurso da reposiçãozinha.
Eu dou exemplos (remato à baliza, para usar uma expressão que todos entendem).
É urgente o regresso do Estado. Tribunais, escolas, centros de saúde, serviços de finanças, postos dos correios, centros de emprego, postos da GNR. O Estado, que desistiu do interior, tem de regressar para ajudar no regresso das populações.
Pois onde não há Tribunais não moram advogados e solicitadores, oficiais de justiça, procuradores e juízes. E respectivas famílias.
Pois onde não há escolas não moram professores e funcionários. E respectivas famílias. Pois onde não há centros de saúde e hospitais não há médicos, enfermeiros, auxiliares de saúde. E respectivas famílias.
Pois onde não há serviços de finanças, postos de correio, centros de emprego e postos da GNR não há funcionários do Estado. E respectivas famílias.
Pois onde não há nada disto não há restaurantes, lojas, empresas, pessoas. E respectivas famílias. Que justificam, por sua vez, aqueles Tribunais, aquelas escolas, aqueles centros de saúde e hospitais, aqueles serviços de finanças, postos de correio, centros de emprego e postos da GNR.

O regresso do Estado é urgente. É obrigatório. E pode e deve passar por serviços centrais do próprio Estado. Serviços como o Instituto Nacional de Estatística, como o Tribunal de Contas, como o Instituto do Mar e da Atmosfera e – já agora – como a anunciada empresa pública das florestas (no fundo, serviços do Estado «a sério», que podem e devem funcionar no interior do país).
É também urgente olhar para o território como um bem a cuidar. Não vale a pena teorizar muito. Basta olharmos para os quarteis dos bombeiros e para os postos da GNR do interior do país. Estamos a falar de quarteis e de postos da GNR que «cobrem» enormes áreas territoriais. Enormes e sensíveis. Deviam ser os quarteis e os postos mais equipados, com mais activos e com maior e mais competente capacidade operacional. Pois estão no extremo oposto. Os meios são poucos, estão obsoletos e não têm capacidade de resposta (naquele fatídico 15 de Outubro, lembro-me do relato de dois autotanques inoperacionais no quartel de bombeiros de Tábua, por exemplo, e vi dois jipes de combate avariados à porta do quartel de Vila Nova de Tazem). E se olharmos à GNR os militares são pouquíssimos e sem a mais pequena capacidade operacional (basta ocorrerem dois incidentes em simultâneo em duas freguesias vizinhas que é certo que uma delas não terá resposta). Insisto. Não vale a pena teorizar muito. É mesmo assim.
No domínio das infra-estruturas, também há todo um mundo pela frente. É indispensável dotar o interior de redes de comunicações de qualidade (internet e móveis) e de transportes de qualidade entre concelhos. Há que desenvolver um programa de reflorestação em grande (enorme) escala, com o predomínio de árvores comprovadamente não combustíveis, e em que serão incluídas espécies animais adequadas à flora a plantar. E este plano deverá passar também pela criação (não é no papel nem na lei) de parques nacionais devidamente infra estruturados, com guias profissionais , com fiscais preparados, com profissionais de manutenção e de limpeza (parques que caricatamente não fiquem inacessíveis ao primeiro espirro de neve!). E, naturalmente, um plano de recuperação da originalidade das nossas aldeias – muitas das quais com potencial para integrar a rede de «aldeias históricas».
Em suma, era mesmo preciso um plano global, de fundo, ambicioso. Não para recuperar o que o 15 de Outubro nos levou. Mas para inverter o abandono. Para relançar o equilíbrio do país, sem nos vergarmos ao estafado efeito spill-over que tudo justifica na capital e no litoral. Um plano para, em boa verdade, projectar o futuro.
Não há dinheiro, estarão a pensar em tom adversativo.
Há. Claro que há. Então não há?
Quando olhamos às manchetes, aos anúncios e aos orçamentos, vemos que há. Muito até. Vemos devoluções de mais de 1000 Milhões de Euros. Vemos redes de metros em Lisboa e no Porto a expandir. Vemos terminais portuários. E vimos estádios e «Expos». Vimos pontes e auto-estradas. Há dinheiro. Falta é vontade a sério. Se quiserem um slogan, falta interiorizar o interior. Aquele interior que não dá votos. Aquele interior que não cumpre os critérios estritos e curtos de racionalidade económica (ou economicista). Mas aquele interior que nos justifica e que temos de honrar.

#Escritório

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

O acantonamento da vida não é saudável

Nunca o escondi. Sempre o afirmei. Cada vez mais o sinto.
A defesa da vida (que em linguagem directa, passou e passa por não aderir ao aborto livre e, por estes dias, se traduz também na resistência à eutanásia) é uma causa tão séria como nobre.
Aliás, não tenho dúvidas que é uma causa justa – porque é de «justiça» que cuidamos quando um ser indefeso é protegido para poder viver, como é de «justiça» que falamos quando, num momento terminal, esperamos do Estado (pelo menos, também) respostas diferentes da «solução final».
Repare-se que os actos consequentes de quem milita ou reivindica a proeminência da vida são, em boa verdade, actos consensuais e naturalmente louváveis. A assistência a mulheres com dúvidas ou dificuldades, bem como a prestação de cuidados paliativos a quem sofre, não são – não podem ser! – matéria de facção, objecto de resistência ou de divisão. Estou certo que qualquer pessoa de boa-fé, mesmo que não se reveja num quadro de valores em que o da vida figura como prioritário, reconhece a justeza de uma sociedade que se organiza para prestar assistência a mulheres com dúvidas ou dificuldades, promovendo o nascimento dos seus filhos, e reconhece quão importante é dispormos de uma rede de cuidados paliativos ao serviço dos que mais sofrem.

Vistas as coisas assim é muito difícil compreender o acantonamento a que vão sendo votados os que se dedicam a estas causas. Nos partidos, nos media, e no espaço público em geral, quem ousa promover a causa da vida merece pouco mais que os mínimos olímpicos de cobertura e atenção. E mesmo essa cobertura, quando existe, é tendencialmente menorizante e pouco abonatória (o que contrasta com o tratamento de que gozam os que, com a mesma liberdade e legitimidade, militam em favor da liberalização).

Este fim–de-semana, por exemplo, organizaram-se caminhadas pela Vida. Aqui no Porto, no percurso pacífica e ordeiramente percorrido entre o Largo da Sé e a Praça dos Leões, não sei bem quantos seríamos. Talvez 400, 500, 600. Em números «sindicais», talvez milhares. Não sei. Sei que fomos ignorados. Que «nada aconteceu», para quem, pelos media, quis saber o que aconteceu. Qualquer acampamento político com 50 jovens. Qualquer manifestação com 5 ou 6 professores. Ou 20 ou 30 funcionários públicos. Ou 10 ou 20 enfermeiros. Um qualquer «desses legítimos números» consegue ampla reportagem, chega a lograr uma primeira página de jornal ou mesmo um directo na televisão. Nós, não.

É certo que estiveram lá mais que 50 jovens (não estiveram lá nessa qualidade, é verdade). É certo que estiveram lá mais que 5 ou 6 professores (não estiveram lá nessa qualidade, é verdade). É certo, também, que estiveram lá mais que 20 ou 30 funcionários públicos (não estiveram lá nessa qualidade, é verdade). E estiveram lá mais que 10 ou 20 enfermeiros (não estiveram lá nessa qualidade, é verdade). Ou então, talvez seja isso que nos falta. Invocar outras qualidades. Porque por muito absurdo que pareça, por estranho que seja face à representatividade que ainda lhe assiste, a militância da vida, pelos vistos, vive acantonada e não existe.

Temo sinceramente por uma sociedade, como esta, em que a defesa da vida é militantemente acantonada. Porque o acantonamento da vida não é saudável.

#Jardim
#Escritório

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

3 pontos


1. Jogo difícil. Adversário ultra competitivo. Nada previsível. Percebe-se bem porque foi “só” o segundo classificado do campeonato alemão.

2. Fizemos o segundo quando estávamos à procura dele. Não caiu do céu. Mas nem sempre, mesmo quando o merecemos e procuramos, o golo aparece.

3. 3 pontos contra uma equipa alemã num jogo de Champions são 3 pontos contra uma equipa alemã num jogo de Champions. E o resto é conversa.

#Saladejogos

Cumprindo Tourais

Nestes dias em que cumprimos com os nossos - e neste ano ainda mais especialmente - cá estamos.




#Jardim

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Inés Arrimadas

Mesmo para alguém, como eu, que não tem «lado» porque não se sente habilitado a compreender inteiramente nem a aspiração independentista catalã nem a convicção autonomista com a integração no Estado espanhol, há um lado a que não resisto. O dos protagonistas.


Olhamos, ouvimos e estudamos a figura do Pudgemont (há meia dúzia de meses nem o difícil nome sabíamos pronunciar). E olhamos, ouvimos e estudamos a figura de Inés Arrimadas. Ignorem por momentos (eu sei que é difícil) a questão estética – e quem me conhece sabe como não desprezo a estética na política. Fixem-se simplesmente na postura, nas intervenções, no conteúdo. Se em Pudgemont sentimos o oportunismo, a vacuidade estratégica, a coragem titubeante, em Inés Arrimadas, sentimos a convicção, a militância democrática, a coragem genuína. E – regressemos à estética – a fluência discursiva, a indumentária sóbria e elegante, o tom doce e firme, fazem de Inés Arrimadas uma líder invejável. Sorte a dos Catalães.

#Escritório

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Vou ser muito directo


300 Milhões de Euros. Sim, 300 Milhões de Euros.
Na sequência da catástrofe dos incêndios deste ano, é esta a verba (300 Milhões de Euros) que o Governo anuncia com pompa e circunstância. Parte desse montante são, aliás, linhas de crédito.
300 Milhões de Euros para recuperar o território, a floresta, casas, instalações industriais, estradas, infra-estruturas… Só quem não conhece a imensidão de território que está em causa é que pode ficar calado.
Eu não sei que país é este. E poupo-vos a exercícios de comparação. Mas 300 Milhões de Euros foi, por exemplo, o que o Estado gastou na estação de metro do Terreiro do Paço.
Uma estação de metro para o interior ... sinto vergonha.


#Escritório

Reportagem (do inferno)

Foi assim. Em Tourais foi assim.















#Jardim

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Sem cálculo e sem clubite


Vivo, por estes dias, muito impressionado. E uma das coisas que me tem impressionado é que perante eventos tão graves e tão profundos haja resistência ou impulsos de clubite. Estamos a falar de vidas (muitas!). Estamos a falar de meios elementares de subsistência. Estamos a falar da viabilidade de grande parte do nosso território comum. Perante isto, perante tamanha catástrofe, é absurdo medirmos as nossas reacções. É absurdo que nos preocupemos em estarmos alinhados com os «nossos», que evitemos dizer o óbvio para não afectar ou o governo ou a oposição (dependendo de quem forem os «nossos»).
Eu digo-o com todas as letras. Quero lá saber se o governo é de direita ou de esquerda. Quero lá saber se é do PS, do PSD, do CDS, do PCP ou do BE. Eu e todas as pessoas com quem vivi o inferno de domingo e da madrugada de segunda não queremos saber.
O que sabemos, sem clubite (porque somos livres para o dizer) é que quem circunstancialmente está à frente dos nossos destinos não tem (não teve comprovadamente) a capacidade para nos proteger, para nos interpretar, para nos levantar sequer.
E estamos a falar do que é absolutamente elementar.
É um governo PS (com apoio do PCP e do BE) que nos governa hoje? Se fosse um governo do PSD e do CDS eu, nas mesmas circunstâncias, diria e faria exactamente o mesmo. Porque as vidas, os meios elementares de subsistência, a viabilidade de grande parte do nosso território, não são de esquerda ou de direita. E valem mais – e antes do mais – que qualquer número de economês e politiquês, que qualquer afinidade ou alinhamento. São vidas senhores!
Claro que me manifestarei no sábado.
Sem cálculo e sem clubite.


#Jardim

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Obrigado

(com Rosarinho Montenegro Fonseca, Maria Pessanha Moreira, António Montenegro, Francisco MontenegroLuís MontenegroJoão MontenegroPedro Montenegro)
Há uma explosão de sentimentos a que não resisto. Gratidão, em primeiro lugar. Lamento e frustração, pelo que não foi possível salvaguardar. Alegria (sim, alegria) por sentir que fizemos o que devíamos ter feito, pela sorte que, apesar de tudo, tivemos, e, sobretudo, pelas vidas e bens poupados. E revolta. Muita revolta. Mas desta última ainda não é o tempo de falar.
Para já queria apenas agradecer as centenas (ou milhares, confesso que estou perdido) de manifestações de amizade, de comunhão, de solidariedade que me destinaram. Que nos destinaram.
Não consigo agradecer individualmente como mereciam (talvez vá conseguindo). Mas agradeço porque sinto quão genuínas e consoladoras foram.
Uma última palavra. Não me confundam. Não fui nenhum herói. Não fomos. Limitámo-nos a cumprir. Com a nossa terra. Com a nossa gente. Com a nossa família (de quem recebemos e a quem devemos entregar).
Só se, nos dias que correm, acharem que quem cumpre com os seus merece ser elevado a herói. Eu ainda não acho.
Obrigado a todos.


#Jardim

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Não sei por onde começar

Ao fim do dia, convocado de urgência, parto sobressaltado rumo a Tourais.
Pelo caminho cruzamos incêndios que nos ameaçam e destroem avassaladoramente. Terras, casas e matas. Tudo. Na A1. Na A25. Nas estradas nacionais que soubemos evitar.
Conseguimos chegar a Tourais. Não há acolhimento possível. Apetece chorar, mas não há tempo (nem é o tempo). Chovem fagulhas desembestadas pelo vento. Olho à volta e sinto o desespero e a impotência dos que já cá estavam. O cerco do fogo, a luz cortada, as mangueiras secas, tudo se conjuga num perfeito holocausto.

Não sabemos o que fazer. Sem água e sem ajudas, decidimos fechar a casa. Imaginamos que se isolarmos cada divisão da casa, talvez se consiga dificultar o contágio. É vã a nossa esperança, porque o fogo vem do céu. Pelas ruas o horror é completo. Começam a arder copiosamente casas no meio da povoação. Mesmo no centro ardem duas casas formando um céu impressionante de chamas poderosas.
Não há coordenação. Não há comunicações. Estamos entregues.
Desesperado (não consigo evitar repetir a palavra) tento substituir a protecção que o Estado não nos dá. Vou a casas, chamo as pessoas que humana mas irracionalmente não querem abandonar a sua "vida". Uns convencemos, outros não. Faço várias vezes o percurso Tourais-Vila Nova de Tazem, onde fica o único quartel dos bombeiros ao qual conseguimos chegar sem estradas cortadas. Os bombeiros não sabem de nada em concreto. Não sabem para onde e se devem ir. Não sabem sequer se há pessoas a evacuar. Digo-lhes que sim. Mas o que é mais necessário é um autotanque que possa acudir ao inferno cada vez mais indomável. Se ardem já 4 casas, com o vento, a chuva de fagulhas e a ausência de água e de ajuda, teremos (viveremos) o fim do mundo. No íntimo, lavado em lágrimas, cheguei a despedir-me da nossa casa. Numa das investidas desesperadas (desespero sempre) vou para o entroncamento da estrada onde estão dois militares da GNR - tão perdidos como qualquer um de nós - a cortar o último acesso a Tourais. Fico com eles, descrevo-lhes o horror de onde venho e insisto que precisamos de ajuda. Do Céu (com "C" maiúsculo) de repente avisto as sirenes dos bombeiros vindos de Vila Nova de Tazem. Era um autotanque! Salto para o meio da estrada para os "obrigar" a acudir Tourais. Virem, virem aqui! Passava das duas da manhã, era o primeiro sinal de ajuda depois de não sei quantas horas abandonados à nossa sorte e à sofreguidão imprevisível das chamas. A desgraça não foi maior graças àquela ajuda! Dentro do possível, passou a ser combatido o fogo dentro da povoação. As casas a arder, arderam na mesma. E três mais, ainda, que de tão próximas não foi possível evitar. Mas não se alastrou a toda a povoação.

Os ventos loucos e imprevisíveis começaram a ajudar também. Eram loucos e imprevisíveis, mas estavam a devolver as fagulhas aos focos de origem, onde já nada mais havia a arder. Os bombeiros perceberam que tinham de recolher as pessoas, o que também começou a correr ordeiramente. Pouco depois voltou a luz elétrica. E com a luz tivemos a água do poço que até então o motor não conseguia trazer. Dentro do caos e do desespero começámos a sentir-nos úteis e consequentes. Subíamos aos telhados, circulávamos à volta da casa e do largo à porta da cozinha. E tudo molhávamos. Não parámos. Ninguém parou.
Às 5 da manhã (mais coisa menos coisa) consegui dar uma volta à aldeia. De tão loucamente concentrado na nossa casa perdera a visão do conjunto. Cada um à sua maneira havia resistido. Inexplicavelmente, as casas haviam passado quase todas incólumes. Mesmo aquelas no meio de terrenos completamente negros de consumidos.
Já de manhã fui ver a Helena e o Fernando, e o Tonito e a Junta. Guardo os olhos embargados, os rostos extenuamos, mas a resistência e presença que sabia que não lhes faltava. E a dor porque a Aurora e o Matos não conseguiram salvar as suas casas.
Foi o horror. A impotência. A sensação de abandono. O desgosto da perda iminente. O desespero. Muito desespero. Mas afortunadamente sou dos que posso dizer que sobrevivemos. Nós e a nossa casa.
Desta vez não me contaram. Eu vi. Eu vivi.


#Jardim