terça-feira, 27 de setembro de 2016

Triste papel

Amália, Orbital ou Antena 1. São as que me calham mais em sortes. Apeteça-me ou não. Esteja ou não com a cabeça em água. Precise de ler, de trocar umas ideias ou mesmo de falar ao telefone. Por regra o som é alto (mas não é bom).
Quando, por ruas de Lisboa, lanço o braço a solicitar um táxi, não tenho ilusões. Chegarei ao destino, é certo. Mas não vai ser como gostaria. Eu até não sou muito exigente – satisfaço-me com um carro limpo, que não me acelere a transpiração no Verão, que não me enjoe com os odores clássicos de veículos descuidados, que não me impinja música de que não gosto, com decibéis que não suporto. E – talvez o mais importante – que não me eleve a pressão diplomática (desgasta-me ter de gerir a híper sensibilidade de alguém que me deveria estar a agradar). Não é sempre, mas é demasiadas vezes. Os modos e a paciência do comum taxista em Lisboa deixam tanto a desejar que me pergunto porque insisto neste modelo de serviço.
Não sou preconceituoso (ou pelo menos, juro que faço um esforço por não ser). E por isso tenho procurado perceber o que mobiliza os taxistas contra a UBER (já sei que não querem concorrência, mas esse não é bem um argumento).
Invariavelmente respondem-me sem hesitação: porque é ilegal. Ao que lhes respondo: muito bem, mas se não for, qual é o problema? Nesse momento entram em desconversa.
Eu desafio-lhes o argumentário – para os ajudar a defenderem-se com racionalidade – dizendo que tarde ou cedo a UBER vai ser legal, vai estar mais ou menos nivelada em matéria de taxas e de licenças. E nesse caso, seria bom que estivessem preparados para explicar porque razão a UBER não deve operar. É que ilegal já não vai ser, explico-lhes.
Até se gera uma conversa interessante mas acabo sempre por não conseguir chegar ao meu ponto. Sugerir que se preocupem com a qualidade do serviço, com uma condução agradável, com o ambiente respirável, com limpeza e atenção ao cliente, sem atender chamadas, com as suspensões sem parecerem panelas de pressão a cada obstáculo na estrada. Noutro dia já só tentava dizer ao motorista que me deixava à porta do hotel para na próxima «corrida» baixar um bocadinho o som estridente do fado que nos embalava o debate, ao que me respondeu: olhe, se quiser perceber porquê que a UBER não pode ir para a frente leia este papel. Segui o conselho e li. Este mesmo que aqui junto cópia. Mas não vi lá argumentos (que os deve haver). Triste papel. O meu e o propriamente dito, pensei.
PS. O Senhor Luís que não me leve a mal (até porque trabalha no Porto). E tantos colegas mais. Que têm os seus táxis sempre impecáveis. Que são pontuais, cuidadosos e sérios. É por eles que ainda tento dizer alguma coisa aos seus colegas.

#Saladeestar

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