segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A rádio que faz falta

É assim com as pessoas, com a saúde, com as instituições. Até com o dinheiro. Tendemos demasiado para a «justiça póstuma». Valorizamos devidamente quando não temos. Quando sentimos falta.
De vez em quando faço um esforço de abstracção para perceber, de entre o que tenho por adquirido, o que realmente me faz falta.
Hoje, no seu 28.º aniversário, pensava na TSF. Eu acho que já nem me lembro da TSF. Está ali. Faz parte. Com notícias de meia em meia hora. Com debates e análise. Com relatos e reportagens. A suscitar-me adesão e rejeição. Comoção e irritação. Informação e desconversa.
Não lhe reservo a exclusividade. Estaciono por vezes noutras frequências e aprecio também outros espaços complementares. Mas diria que é a minha base.
TSF. A rádio que faz falta. Pode parecer curto, mas acho que é o melhor elogio que lhe posso fazer.

#Saladeestar

17

Se é verdade que esgotar um coliseu não impressiona. Se é verdade que esgotar dois ou três pode não impressionar. Já não pode deixar de impressionar que de repente, quase do nada, dois portuguesinhos, fiéis às suas origens e à língua mater, decidam juntar-se para ver no que dá e se vejam a braços com 17 - dezassete! - coliseus repletos e rendidos.
Eu, que em Agosto comprei os meus bilhetes para a primeira data, não posso estar mais sintonizado com o fenómeno. 
No meu caso, devo o impulso de Agosto à expectativa de um serão quase privado, acompanhado de boas histórias, bom humor e melodias familiares.
Quando ontem saía regalado do Coliseu - em que se havia confirmado tudo (e mais alguma coisa) do que justificara a minha fidelidade de Agosto - só pensava no potencial criador deste fenómeno. Se gostamos, se vibramos e nos regalamos com estes serões - e, portanto, se os desejamos renovados por muitos e bons anos - não há-de haver maior bálsamo, maior motivação e mais eloquente estímulo para o Miguel Araújo e para o António Zambujo.
Diria que estão garantidos muitos mais que 17!

#Saladeestar

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Gosta de mim, pai?

As filhas pequenas (também os filhos, mas mais as filhas) quando ao nosso colo, e à procura da segurança paternal de uma declaração de amor incondicional - à prova de todas as hierarquias! - volta e meia perguntam-nos «gosta de mim, pai?». Mal sabem elas que não há resposta mais fácil para um pai ou para uma mãe. Não temos qualquer mérito de tão instintivo que é. E por isso pronunciamos-lhes o «sim» grave e incondicional que tanto desejam ouvir.
De troca, e imerecidamente, recebemos o reconhecimento mais puro e também ele incondicional.

Hoje, em dia de jogo no Dragão, ficarei por casa. É nestes momentos que o reconhecimento àquele «sim» grave e incondicional não é assim tão imerecido …

#Salaodevisitas

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Costa Concórdia

Neste dia em que se inicia o debate do Orçamento do Estado não sei porquê veio-me à memória a dramática história daquele comandante que desviou a rota para acenar a uns amigos.
O desfecho é conhecido e foi terrível. O grandioso barco encalhou, ficando o triste registo de vítimas inocentes e prejuízos materiais incomensuráveis.

Fiquei a pensar. O comandante a desviar a rota do «barco». Os imprudentes acenos aos «amigos». O fundo perigosamente próximo.


Como é que se chamava o barco?

#Escritório

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Organizem-se!

Reestruturação da dívida?
Claro. Não. Talvez. Virar a página. Gradualismo. Sim. Não. Talvez.

*Imagem real



quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Moção das cinco pedrinhas

Cinco ou seis pedrinhas. Tinha sempre de procurar cinco ou seis pequenas pedras. Por regra, à quinta ou sexta vez que acertava na janela da sala de estar do 1. Esquerdo era presenteado por aquele sorriso meigo e agradecido que já justificava a minha visita. A campainha era como se não funcionasse. Era já uma convenção (não sei se por segurança se por já nem captar o som da campainha que soava na outra ponta da casa).

Naquela salinha, com os pés pousados numa escalfeta e a ler as inocentes anedotas do Clarim, vivi dos melhores lanches (com o melhor leite e as melhores torradas) da minha vida. E sobretudo - muito sobretudo - com a melhor companhia. Arrependo-me de não ter repetido o programa o dobro das vezes (lição que levo para a vida e a que os meus filhos não escaparão).

Quando me procuro situar, quando me quero orientar, quando persigo o registo certo, é naqueles encontros que me inspiro.
Só hoje vejo tão perfeitamente como estava lá tudo. A entrega amorosa, a bondade, as certezas, as raízes, o surpreendente e disfarçado arrojo, as necessárias incoerências, a aceitação quase não assumida (mas praticada) dos desvios alheios, e o maravilhoso sentido de humor (qual líquido que tudo une).

Afinal, nestes tempos de programas, manifestos e moções, estava aqui a verdadeira moção. Das cinco ou seis pedrinhas brotava toda aquela sabedoria. Tão simples.

#Escritorio
#Jardim

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Intervenção

Às vezes venho, outras vejo. Quando venho, vim. Quando vejo, vi. E depois dizem de mim - Ele veio! Ele viu!

Há vezes, porém, em que intervenho, outras em que entrevejo. Quando intervenho, intervim. Quando entrevejo, entrevi. E depois dizem de mim - Ele interveio! Ele entreviu!

Ainda ontem o ministro da economia nos garantia que o governo interviu. Confesso que entrevi a necessidade de uma intervenção. Talvez no português...

#Biblioteca; #Saladeestar

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Filhos da Ponte

A TAP e a opção que a sua administração vem tomando há já muito tempo relativamente ao Porto e ao Norte do país (e que numa empresa privada pode ser muito criticável, mas é legítima) roça já o insulto.
Para quem acompanha este debate há mais de 10 anos sabe bem que a discussão sobre as rotas serem ou não serem rentáveis, haver ou não haver procura no tão falado «hinterland» do aeroporto do Porto, foi sempre uma sonsa arma de arremesso da TAP.
Praticamente todas as rotas que a TAP suprimiu ou não criou foram sendo preenchidas por outras companhias com – pasme-se! – enorme sucesso. Luanda é um caso escandaloso. A TAP, pura e simplesmente não mais quis investir no Porto. Deixou de querer ter aviões, equipas e equipamentos sedeados no Porto, para concentrar os seus investimentos no aeroporto de Lisboa. E o mesmo aconteceu (ainda mais) relativamente a Faro e às Ilhas. Agora, pelos vistos, a estratégia passou do desinvestimento à concorrência directa e ao boicote.
Sonsamente, acenam-nos com uma Ponte Aérea que já nem sequer inclui um voo nocturno compatível com os horários do médio curso.


Imagino como nos tratarão no conselho de administração da TAP. Filhos da Ponte. Deve ser gralha …

#Saladeestar

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Portugal é a razão

1. Eu não tenho reservas mentais nem estados de alma sectários na hora de pensar em Portugal e por isso desejo, genuinamente, que as coisas corram bem ao Governo português. É que não é o Governo do PS com o apoio do PCP e do BE que está em causa. É Portugal.
2. As minhas sinceras ansiedades, desconfianças e mesmo divergências não são nem agoiros nem desejos. E merecem tanto respeito como se fossem entusiasmos ou quase excitações.
3. Recuso-me a entrar no jogo infantil do «estão a ver como eu vos avisei» ou «estão a ver como eu tinha razão»? Ter razão não é um fim. Prefiro não ter razão porque as coisas correram melhor do que esperava.
4. Nem as resistências da Comissão ao esboço do OE nem o acordo alegadamente alcançado me alegram ou entristecem. E muito menos servem – ou deverão servir – para o tal jogo infantil do «estão a ver como eu tinha razão»?
5. A razão que assistirá ao actual Governo português na estratégia adoptada está por demonstrar. Oxalá lhe assista essa razão. Porque Portugal é a razão.

#Escritório

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Patriotas da fé

O Governo, os seus apaniguados no parlamento e nas redes sociais, são, obviamente os mais sábios, sérios e patriotas de todos nós. Ia dizer «eleitos» mas temi que não fosse um termo consensual.
Por patriotismo – o deles, claro! – temos de estar acriticamente ao lado do governo no esforço patriótico (insisto no patriótico) de acabar com a austeridade, aumentar as pensões e os salários, reduzir o horário de trabalho, diminuir o endividamento, cortar no IVA e no IRS, baixar o défice, consolidar as contas públicas, garantir o crescimento da economia, o aumento das exportações, a diminuição do desemprego, o fim das taxas moderadoras na saúde, a TAP, o fim de algumas SCUT, e muito mais (sempre mais e melhor). E tudo isto, no estrito e garantido cumprimento dos compromissos internacionais perante os nossos credores e sempre ao abrigo do Tratado Orçamental.
Não vou perder muito tempo com esta convocação parola ao patriotismo. O Céu não é nem de direita nem de esquerda. A fé no Céu ao virar da esquina, com rosas e sem dor, é que parece ser mais de esquerda.
Lamento muito. Não nos podem exigir a fé que não temos.
Ou já não vivemos num Estado laico?

#Escritório